Hoje é dia de encolher.

      Assim pensou seu Abrão, filho de dona Sara com seu Messias.

      Dito isso lá nos resconsos da cabeça grande e ovalada, foi encurtando, amiudando, até olho nu ou vestido nenhum poder vê-lo.

      Seu Abrão diminuía, seu Abrão pensava.

      Pensava nas noites em que via o céu e seu tormento de estrelas, como a desdesenhar caminhos que nunca para si havia traçado. Memorava tempos nunca idos ou vindos na infância inexistente, passada na beira do rio, onde tudo corre e tudo fica.

      Horizontes, casas, pontes, fomes muitas e nenhuma fonte – só água salobra estagnada, onde bebiam bois e revoadas de meninos.

      Depois que muito pensou, seu Abrão quis crescer. Mas não pôde: o sol lhe vinha assim de chapa; e quando vinha assim, de chapa, o sol não deixava nada crescer.

      O homem então se conformou com tudo e a tudo. Saiu deslizando entre os grãos de areia da ampulheta onde passara, daquele instante em diante, a habitar, e foi pousar, meia-semente – poalha de si –, no assoalho de madeira do tempo.

      Quando pediram – era uma voz sem dono – que sacrificasse seu coração em louvor à virgem, ele não negou, nem consentiu: apenas olhou.

      Hoje, por conta disso, é minério esquecido.

      Um dia, quem sabe, lhe despejam água e ele brota.

      Quem sabe?