A China marcha ao encontro de grandes problemas. Temendo um recuo político da forma de vida do Ocidente, o governo de Beijing adotou um programa de expansão temerária, o qual, embora, proporcione vantagens a curto prazo, sinaliza consequências insuportáveis.

Porém, este ponto de vista permanece herético. O comumente aceito é que a conjugação da lógica keynesiana (do pacote de apoio econômico) com o controle centralizador leninista, contribuirá para o retorno do restante do mundo ao bem estar. Assim é, se assim vocês pensam.

Sob o ponto de vista estratégico, é um momento oportuno. Avalia-se que, em algum momento neste século XXI, o papel de superpotência econômica (e, por extensão, política) será entregue pelos EUA à China, e a crise dos últimos anos acelerará este processo.

Por quê? Porque, tradicionalmente, foram os EUA que atuavam como locomotiva para o restante da economia mundial, mas agora é a China que encontra-se na vanguarda. Os industriais alemães sofrem de estrabismo e olham mais para Beijing do que para os EUA, para aumentarem as encomendas, e isto sinaliza uma reversão de forças.

Locomotiva limitada

Parte deste argumento, seguramente, soa correto. Os EUA permanecem, de longe, o país mais poderoso do mundo, mas a economia de bolha e a super-expansão militar têm enfraquecido sua força. E desde que passaram muitos anos gastando mais do que tinham, os consumidores norte-americanos fazem agora grande economia. O aumento do desemprego e os cortes salariais resultaram na redução da renda das famílias antes do recolhimento das contribuições ao fisco.

Assim, em decorrência disto, não constitui curiosidade o fato de os gastos de consumo terem sofrido corte profundo. A economia norte-americana tem, profundamente arraigados, alguns problemas: Possui uma base industrial oca, consumidores super-endividados e um arruinado mercado imobiliário. E, para piorar, contabiliza um explosivo déficit de orçamento.

Os lances estratégicos de Beijing proporcionam saída para as exportações do restante da Ásia e da Europa, enquanto "dão um tempo" aos EUA para se recuperar. Tudo isso parece muito bonito para ser verdadeiro.

Primeiro, a China, apesar do explosivo crescimento das últimas três décadas, permanece uma economia menor do que a dos EUA. Medindo, com o critério de paridades cambiais, a dimensão da economia chinesa é cerca de 20% da norte-americana, ou aquela da União Européia, e isto significa que possui possibilidade limitada para funcionar como locomotiva da economia mundial.

Crescimento maquiado

Mas sequer os dados estatísticos de sua economia são tão transparentes quanto deveriam ser. John Makin, em um artigo seu para o Enterprise, um think tank norte-americano, disse que "a China registra crescimento falsificado". Seus – não dignos de crédito – métodos contábeis têm como resultado que os bens se contabilizem como já vendidos, quando saem das fábricas, e não quando estão sendo comprados pelos consumidores.

Já os empréstimos bancários são registrados no Produto Interno Bruto (PIB) assim que liberados, ainda que quando as empresas mantêm a liquidez ou utilizem os recursos para a compra de ações.

Segundo, no crescimento da China predominam os investimentos e as exportações. Em antítese com o Ocidente, reduz-se a parcela do PIB que representa o consumo, e isto significa que, conforme destaca o escritor marxista Chris Harman, "não pode ser absorvida pelo mercado doméstico o colossal aumento da produção. Ao contrário, o superávit é canalizado, em número cada vez maior, a investimentos ou mercados do exterior".

Embora todos gostem de acreditar que a liderança do Partido Comunista da China proporciona com calma um argumento para a recuperação da economia mundial, a realidade é bem diferente. O contínuo fluxo de liquidez na economia tem agravado sobremaneira o problema dos super-investimentos, provocando um explosivo aumento dos empréstimos não resgatados, enquanto uma grande parcela do aumento da oferta de dinheiro será destinada à especulação.

A superação do desempenho produtivo e a contração do lucro têm como resultado que muitas das empresas problemáticas, que foram mantidas vivas com o dinheiro barato do governo, enfrentam grandes dificuldades para resgatar suas dívidas.

Se o governo de Beijing não enfrentar os problemas econômicos acumulados em sua frente, por motivos políticos, as cosequências serão sérias. "Se, em 2007, os EUA eram um trem lento, cujos vagões foram destruídos um após outro, a China – ao contrário – é, até um certo grau, o expresso que marcha rumo à catástrofe. Adicionalmente, se a recente experiência norte-americana significa algo, então a derrocada não demorará", destacam os fortes think tanks sediados em Washington.

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Fonte: Monitor Mercantil