Malvinas: referendo é manobra midiática do Reino Unido, diz embaixadora
A embaixadora argentina na Grã-Bretanha, Alicia Castro, insistiu que o referendo feito entre os habitantes ingleses nas Ilhas Malvinas (Falklands, para os britânicos) constitui uma “manobra midiática que expressa a debilidade da posição do Reino Unido”. Em entrevista à rádio FM Milenium, a representante explicou que “diferentemente de outros casos”, “o referendo não foi convocado pelas Nações Unidas, e não conta com sua aprovação ou supervisão”.
– Não é que não entendemos o desejo dos habitantes [das Malvinas] de ratificar sua identidade: eles são britânicos e a lei britânica os reconhecem como tais. A Argentina não tem a intenção de mudar sua identidade e seu modo de vida, mas o território que habitam não é deles. Existe um direito que eles não têm, que é decidir sobre o destino do nosso território ou resolver a controvérsia sobre a soberania – disse.
Nesse sentido, argumentou que a autodeterminação dos povos é um princípio fundamental do direito internacional “que não é reconhecido a qualquer comunidade estabelecida em um território, mas aos povos considerados originários daquele território que foram ou estão submetidos ao poder colonial, o que não é o caso dos habitantes “ das Ilhas Malvinas.
– Não é um povo colonizado e sim um território colonizado. Os habitantes não são parte da disputa da soberania. A soberania é sobre o território – disse Alicia Castro. Ela reafirmou que nas Ilhas Malvinas “existe um governo ilegítimo e não há uma legítima Assembléia Legislativa” e que a decisão de fazer a consulta é “uma decisão do Reino Unido assim como é decisão do Reino Unido não negociar”.
Para esclarecer a situação de embate, o SRZD.com entrevistou o professor de relações internacionais da ESPM, o argentino Mario Gaspar Sacchi.
Segundo ele, a aprovação quase unânime nas ilhas evidencia a grande identificação com o Reino Unido por parte dos kelpers – como são chamados os habitantes. Segundo o estudioso, o resultado pode ser explicado pelo fato de a maioria da população ser de origem britânica, e de haver apenas 29 argentinos. Além disso, de acordo o especialista em Relações Internacionais, apesar da proximidade de 400 km da costa argentina, o governo do país sul-americano não é bem visto no arquipélago:
– Os moradores das ilhas não têm uma boa relação com os governantes argentinos, principalmente depois de 2003. Na época, o antigo presidente Néstor Kirchner rompeu os meios de comunicação da Argentina com as Malvinas, cortando o abastecimento de alimentos no arquipélago, já que todo navio com destino às Malvinas ancorava antes na Argentina. Isso gerou uma grande crise de desabastecimento nos mercados – explicou Sacci.
Em 1982, a ditadura decadente do general Leopoldo Galtieri na Argentina decidiu abrir uma guerra pelo domínio do território. Do lado britânico, a primeira-ministra Margareth Thatcher entrou com força total na disputa, enviando 28 mil soldados ao local, e a Guerra das Malvinas terminou quando os argentinos se renderam, depois de mais de dois meses de conflitos sangrentos.
– Os argentinos tentaram tomar o território à força, com Aeronáutica, Exército, mas mandaram soldados que mal sabiam pegar em armas, e o país perdeu não só o conflito, mas também o apoio mundial – lembra.
Perguntado sobre que efeitos a retomada da discussão acalorada com o Reino Unido teria internamente na Argentina, Mario Sacchi analisa que a disputa também serve para fortalecer a presidente Cristina Kirchner:
– A Argentina está em um contexto de alta inflação e de pagamento de dívidas. O governo utiliza a disputa pelas ilhas para fortalecer internamente a imagem de Kirchner e o nacionalismo – declarou Mario Sacchi.
O professor, que nasceu na Argentina e vive no Brasil há 42 anos, acredita que a polêmica pelo controle do território continuará nos próximos anos, já que a Argentina parece não estar disposta a recuar na disputa:
– Tudo indica que a Argentina tentará forçar um debate na ONU, afirmando que a votação não tem validez legal sob o ponto de vista do direito internacional. Os argentinos sempre reagem violentamente em relação à questão das Malvinas, e devem continuar com o embate pelo domínio do território – aposta o professor.
Com informações da Agência Brasil, citando a Telam; e do SRZD.com