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    África

    NEGRA!

    I Negra! negra! como a noite d’ uma horrível tempestade, mas, linda, mimosa e bella, como a mais gentil beldade! Negra! negra! como a asa do corvo mais negro e escuro, mas, tendo nos claros olhos, o olhar mais límpido e puro! Negra! negra! como o ébano, seductora como Phedra, possuindo as celsas formas, em […]

    I

    Negra! negra! como a noite
    d’ uma horrível tempestade,
    mas, linda, mimosa e bella,
    como a mais gentil beldade!
    Negra! negra! como a asa
    do corvo mais negro e escuro,
    mas, tendo nos claros olhos,
    o olhar mais límpido e puro!

    Negra! negra! como o ébano,
    seductora como Phedra,
    possuindo as celsas formas,
    em que a boa graça medra!
    Negra! negra!… mas tão linda
    co’os seus dentes de marfim;
    que quando os lábios entreabre,
    não sei o que sinto em mim!…

    II
    Só, negra, como te vejo,
    eu sinto nos seios d’ alma
    arder-me forte desejo,
    desejo que nada acalma.
    se te roubou este clima
    do homem a cor primeva;
    branca que ao mundo viesses,
    serias das filhas d’ Eva
    em belleza, ó negra, a prima!…
    gerou-te em agro torrão;
    S’ elevar-te ao sexo frágil
    temeu o rei da criação;
    é qu’és, ó negra creatura,
    a deusa da formosura!…

    ____________________________________________
    *Poeta de Angola

    Livro: Poesia Africana de Língua Portuguesa
    Antologia
    Organizadores: Maria Alexandre Dáskalos
    Livia Apa
    Arlindo Barbeitos
    Editora: Lacerda Editores, 2003

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