A realização da tese socialista básica: a formação do homem novo. A educação se voltava, ao contrário, para o desenvolvimento da produtividade, da tecnologia e do armamento bélico. Com respeito ao possível desenvolvimento da teoria marxista da educação no Brasil, a autora revela preocupação com a fragilidade teórica e política dos quadros técnicos, muitos voltados para uma solução eclética. Considera fundamental a mobilização em torno de um programa coletivo, orientado para a construção de elementos teóricos de base marxista, que sirvam de base para a prática pedagógica.

A ANÁLISE COMPARATIVA

Procedeu-se à comparação das posições e conclusões dos autores estudados, a partir das seguintes referências: amplitude das análises, causas da crise do marxismo, crise da teoria e crise do socialismo, pluralidade de marxismos, possibilidade de superação da crise, questões em aberto que necessitam estudos e condições para a superação da crise.

CONCLUSÕES GERAIS

Ao constatar a significativa influência da crise do socialismo nos textos examinados, a autora chega à conclusão de que é esse fato histórico que dá a particularidade da atual crise do marxismo. Trata-se de um momento novo, de transição, que só será respondido se respondidas forem as questões que lhe deram origem. Tornam-se necessários, portanto, rigorosos estudos da prática social e educacional das experiências socialistas, exames críticos do desenvolvimento teórico do marxismo frente às questões contemporâneas, dentre as quais situam-se os problemas educacionais. É importante ter em vista a compreensão da problemática do recrudescimento do capitalismo e da atual política neoliberal e seus reflexos na educação e o desenvolvimento de um corpo teórico que subsidie a ação política de reatualização do projeto socialista.

APRECIAÇÃO CRÍTICA

O tema escolhido mostra-se oportuno e necessário, face ao atual momento histórico de balanço teórico e de busca de respostas para questões novas e antigas.

Trata-se de um assunto muito amplo, envolvendo questões que por si exigem estudos específicos. A autora optou por uma pesquisa de caráter exploratório, que resultou num levantamento de aspectos gerais da problemática. Essa não verticalização evidencia-se, principalmente, ao abordar a temática da educação, que teve um tratamento ligeiro, separado, “a posteriori”, e de forma predominantemente dedutiva, em relação à análise do debate sobre a crise do marxismo. Esta, por sua vez, pouco se distancia, na sua forma de exposição, dos resultados imediatos trazidos pelo fichamento das obras selecionadas, dificultando de certa forma a realização do estudo comparativo.

A presença de um eixo de análise prévio, que informasse a coleta de dados tanto das questões gerais da crise do marxismo, quanto das questões específicas da educação e o tratamento simultâneo e mutuamente entrelaçado dos dois debates, que na verdade é um só, poderiam ter jogado um papel importante na melhor organização e síntese das informações coletadas, que são da maior pertinência e relevância.

A todos que se interessam pelo estudo da crise teórica do marxismo, recomenda-se a consulta a esse estudo, que oferece importantes sistematizações de leituras e sugestivas pistas de investigação.

Lucília Regina de Souza Machado


Jornalismo operário

ARAUJO, Sílvia & CARDOSO, Alcina. Jornalismo e Militância Operária. Curitiba, UFPR, 1992. 175 p.

As autoras desse trabalho lecionam na Universidade Federal do Paraná e não é a primeira vez que se voltam para um problema candente, como a história do Movimento Operário no Paraná. No seu esforço para elucidar esta questão organizaram, de maneira muito feliz, um Centro de Memória sindical, onde procuram armazenar o conhecimento sobre a história do operariado paranaense. É através deste esforço que podemos encarar os seus trabalhos. Elas recolheram, até então, não só as informações para este livro, mas também produziram uma brochura sobre o primeiro de maio nesse estado.
Por ser um marco profundo da organização classista do movimento operário brasileiro, a imprensa é uma constante nos estudos que abordem tal tema. A atualidade das questões que a envolvem a torna viva e é nesse prisma que sobressai o trabalho de Silvia Araújo e Alcina Cardoso.

O trabalho está dividido em três partes. Na primeira: A prática da imprensa operária. As autoras apresentam a imprensa operária paranaense procurando familiarizá-la com o leitor, seguindo um raciocínio lógico. Temos um quadro vivo de como os operários elaboram seu jornal e o que ele significa. Um exemplo, tirado ao acaso do livro, mostra-nos que estamos em “(…) 1904, 31 de dezembro. São seis horas. Amanhã mal despertada madrugada de Curitiba. Gigi Damiani se apressa em sair para as portas das fábricas a distribuir O Despertar, que acaba de ser impresso. Último dia do ano. Uma vez mais Damiani materializa com este oitavo número do jornal o sonho acalentado durante inúmeros serões. A mensagem é tão inovadora quanto o seu espírito inquieto: Leitor, amigo que tu sejas, nós não te auguramos a vitória com anos de saúde (…). Nós de auguramos adquirires a consciência de ti mesmo e o ardente desejo de te veres livre no seio de uma sociedade de iguais”.

Nesta parte, ainda, encontramos informações não só dos diversos jornais existentes no decorrer do período de 1892 a 1936, como também, dos seus colaboradores; temos a questão da indústria gráfica, utilizada então pela classe; e outras, como as que falam dos intelectuais e dos redatores, dos temas propostos no decorrer desse processo etc, o que demonstra o esforço de pesquisa das autoras.
Na segunda parte: Projetos de sociedade, vislumbram as ambições e ideologias que permeiam essa imprensa. Compensando a sua intencionalidade, a conclusão das autoras é de que esta literatura jornalística “(…) reveste-se de um significado que, embora revolucionário na proposta de transformação social total, materializa-se de forma reformista. Os jornais produzidos (…) em cada estado ou cidade adquirem especificidades próprias e também apresentam características gerais dessa ideologia que veiculam”. A maioria dessas folhas é de anarquistas, voltadas para tendências anticlericais, antimilitaristas etc.

Na terceira parte: Uma história a contrapelo, temos adaptações e modificações que a imprensa sofrerá num período conturbado, que vai de 1910 a 1936, momento onde ela intensificara o seu caráter de vanguarda, assim como o de instrumento de resistência, frente ao comportamento da imprensa burguesa e ao próprio Estado, apesar de muitas vezes assumir um caráter reformista, prova da introjeção de novos valores.

EDIÇÃO 30, AGO/SET/OUT, 1993, PÁGINAS 73