O resgate da imprensa operária no Brasil vem contribuindo para esclarecer ou, ainda, ampliar o conhecimento sobre o operário brasileiro, com suas reivindicações, lutas, vitórias e até derrotas.
O livro de Maria Nazareth Ferreira, intitulado Imprensa Operária no Brasil se propõe a ser mais do que um resgate da classe, ele vai procurar “(…) encontrar uma fórmula mais racional para entender a imprensa da classe trabalhadora”. Nessa perspectiva, o livro nos fornece ampla e vasta gama de informações sobre nossa história recente.

No capítulo sobre a imprensa anarcossindicalista, as sua raízes são explicitadas. Inicia-se com a publicação do Jornal O Proletário, em Pernambuco, em 1847, indo até a fundação do Partido Comunista do Brasil (PCB), em 1922. Aí fica claro que a maioria dos jornais defende programas anarquistas, devido à forte influência dos imigrantes, dos quais grande número professava o anarcossindicalismo.

Na época referida a imprensa operária se caracterizava por defender os direitos da classe, papel fundamental num momento em que os trabalhadores procuravam se organizar.
Entrando em contato com jornais da época percebe-se a variedade de conteúdo ideológico que se apresenta: ataques à igreja, luta contra a guerra, luta contra a exploração do trabalho, luta contra a miséria, incentivos a greves etc. Essa variedade altera-se também segundo o momento histórico em que surge o jornal.

As mudanças de caráter político-econômico sofridas pelo País refletiram-se no setor operário e, consequentemente, em sua imprensa. O movimento, principalmente após as turbulências do final da Primeira Guerra Mundial, irá cada vez mais adotar um perfil sindical-partidário, orientando-se através da ideologia socialista-leninista, vitoriosa com a Revolução Russa. Segundo a própria autora, nessa hora “(…) a imprensa operária sofre uma mudança radical. Se até os primeiros anos da década de 1920 ela poderia ser caracterizada como imprensa nascida à sombra das Ligas, Uniões e Sindicatos, a partir da existência do PCB os principais jornais operários estarão ligados a partidos. Essa mudança é da maior importância, visto que a imprensa anarcossindicalista se auto-intitulava apartidária e apolítica, enquanto a nova imprensa é antes de tudo política e umbilicalmente ligada ao partido (…)”.

Como vimos, a imprensa evolui em busca de novos valores que irão surgindo com o tempo: antes produzida pelo operariado, cada vez mais passará a ser produzida para o operariado, assumindo função informativa, incluindo novos assuntos de cunho científico.

Após o abrandamento das táticas operárias, causado pela política reformista adotada pelo Estado, nas décadas de 1940 e 1950, o movimento sofrerá novo abalo com o golpe de 1964: “(…) muitos jornais deixam de circular, outros reduzem sua tiragem e aumentam sua periodicidade. O conteúdo sofrerá mudanças que denunciam o esvaziamento da organização operária”.
Na década de 1980 se fará sentir nova forma de pressão das forças operárias, agora com novo conteúdo organizativo e ideológico, dando-se primazia aos fatores econômicos, o que acentua o grau de despolitização dentro do movimento trabalhista.
O que nos parece fundamental é que a autora consegue demonstrar uma linearidade no desenvolvimento da história da imprensa operária, guiando-se dentre suas diferentes formas de apresentação. Outro dado importante nos é apresentado pela série de tabelas reproduzidas na parte final, onde é demonstrada a contínua produção da imprensa a partir de 1847 até 1986. O total de títulos ultrapassa trezentos, entre jornais e revistas de cunho operário.
Vera A. C. Capucho

Nota do editor:
Não consta da lista elaborada pela autora – no 6º capítulo de seu livro – o nome do jornal Tribuna da Luta Operária que circulou pela primeira vez em 18 de outubro de 1979, chegou a imprimir 30 mil exemplares por edição por nove anos consecutivos, dando lugar ao quinzenário A Classe Operária que, assim, passou a ser mensal.
Este último, fundado em 1925, é órgão central do Partido Comunista do Brasil, PCdoB.