"Tina eu nunca pude fala cum vosse, eu…"

      – Droga!

      Mais uma folha ia parar no lixo. Ele nunca conseguira terminar os estudos, melhor, saiu da escola na quarta série, e hoje estava apaixonadíssimo por Tina que estudava no "Estadual", a escola mais importante da cidade, como se não bastasse, além de bonita, isto é, além de maravilhosa, ela era muito inteligente. Todos sabiam de suas qualidades intelectuais, inclusive ele. Pois era justamente isto que o levava a tantas bolinhas de papel que rolavam pelo chão.

      Com as mãos sobre a nuca, como a espremer o cérebro para que conseguisse escrever alguma coisa, ele, tímido, por isso não pedia ajuda para ninguém, relembrava todos os momentos em que tentara se aproximar de Tina. Primeiro foi aquele encontrão na árvore próximo à escola, depois foi o "bom dia Tina" que ficou perdido na brisa noturna, e por último, o esbarrão na própria almejada.

      Todos já sabiam de seu amor, inclusive ela, sabiam também que ela, orgulhosa, detestava as pessoas de pouco conhecimento. Por isso nunca deu espaço para o nosso amigo.

      Seus pensamentos voavam até que, tomado de indignação, ele disse:

      – Chega!

      E voltando de seus devaneios:

      – Vou fazê o que eu mais sei fazê. Vou iscrevê a única coisa que eu sei que num tem erro ninhum e vou arrasar.

      E no outro dia, ele realmente conseguiu surpreendê-la, no muro da escola, todos viram pixado em letras garrafais:

      "Tina eu 'ti' amo".