O que é pior: errar por ignorância, ou errar por descuido?

      Meu camarada Nivaldo Santana, paulista ilustre, me adverte, em mensagem enviada pela internet, que a cidade de Poços de Caldas não fica em São Paulo, como vai em meu conto de 27 de janeiro, mas em Minas Gerais. E acrescenta, talvez para amenizar minha imperdoável impropriedade geográfica, ou para justificar meu engano, que os casais paulistas de antanho tinham preferência por passar lá lua de mel.

      Diante de tão grave denúncia, me vi obrigado a dar explicações ao distinto leitor. Sei que vai parecer uma desculpa esfarrapada, mas juro que é tudo verdade.

      Quando montei “A vendeta de Jacira”, ia numa primeira versão escrito assim: “Memê, de Emerentina, cabocla de Adamantina, interior de São Paulo”. Relendo o texto, vi dois vícios no parágrafo: primeiro, o eco de Emerentina com Adamantina; depois, que repetia a expressão “interior de”, presente no trecho “Fininha, branquinha mirrada, nascida no interior da Paraíba”. 

      Para livrar Emerentina de uma rima indesejável, viciosa, e para não igualá-la a sua consorciada Fininha, resolvi fazê-la mineira de Poços de Caldas. Fica bom, pensei, ainda mais que a cidade fabrica um doce de leite que é uma delícia e dá a Memê a esferidade de uma cabocla roliça, tão direita e mansa quanto saborosa.

      Mas eis que, na alegria da descoberta, acabo por esquecer o estado de São Paulo roubando território à província de Guimarães e Drummond. Pronto, a desgraça estava feita. Só mesmo um deputado paulista para me salvar.

      Venho dizer tudo isso, não somente para me desculpar com o leitor, sobretudo o mineiro de Poços de Caldas, e agradecer a Nivaldo, que acabou por me apontar um erro básico que não se deve cometer em meu ofício, mas para mostrar o quanto a profissão de escritor é ingrata. Porque, se não se toma cuidado, a busca de um efeito pode gerar efeitos colaterais, mais que indesejáveis, irremendáveis.

      Ah, que falta faz um revisor…