Logo Grabois Logo Grabois

Leia a última edição Logo Grabois

Inscreva-se para receber nossa Newsletter

    Comunicação

    A carta – capítulo 5

          Na oficina de Toninho, seu Jorge conversa animado. Fala das vendas do dia, das empregadas de Perdizes, das donas casadas, descasadas e solteiras que transitam pelo bairro.       Todo mundo ri um bocado com seu Jorge. Ele tem um jeito engraçado de contar as coisas: imita a fala das madames; comenta, jocoso, os dotes […]

          Na oficina de Toninho, seu Jorge conversa animado. Fala das vendas do dia, das empregadas de Perdizes, das donas casadas, descasadas e solteiras que transitam pelo bairro.

          Todo mundo ri um bocado com seu Jorge. Ele tem um jeito engraçado de contar as coisas: imita a fala das madames; comenta, jocoso, os dotes físicos das mulheres (ou a carência deles). De tudo, seu Jorge faz caricatura. E a turma se abre toda em gargalhadas e apupos.

          – Ah, seu Jorge, o senhor não tem jeito mesmo – diz, enxugando lágrimas, Toninho, o dono do negócio.  Se bobear, ninguém aqui trabalha. Depois o senhor reclama que o serviço tá demorando, tá atrasado…

          – Ói pra isso! – responde seu Jorge -. Desculpa de papa-terra é dizer que pau não tem oco, seu Tonho. Venha pra cá com essas conversas! O serviço atrasa e eu sou o culpado? Tô podendo…

          Toninho se ri. Gosta do velho. Quando aparece com sua kombi velha, acaba alegrando a oficina. Quem não o conhece, começa por considerá-lo sisudo. Mas, basta ouvi-lo falar, para que se dissipe a impressão. Até os clientes que aparecem pela primeira vez na oficina, quando ele se vai, perguntam quem é o sacana simpático.

          – Seu Jorge, outro dia apareceu um sujeito aqui perguntando do senhor.

          – Ô, Toninho! Quero lá saber de sujeito! Ainda fosse sujeita…

          – Perguntou onde o senhor morava e tudo.

          – É.

          – Acho que é lá de sua terra… Como é mesmo? Salto das Vacas?

          Seu Jorge gelou. Pálido feito cera, respondeu, numa voz sumida:

          – Saco das Varas…

          – Isso!

          – Disse o nome?

          – Disse não. Mas eu tenho aqui registrado. Ele me pagou com cheque. – e enquanto procura – Perguntou assim: " Aquele senhor engraçado que tava aqui uns dias atrás, chama-se Jorge, não é?". Aí eu respondi: "É". "Ele mora aonde", o sujeito perguntou. Eu disse: "Aqui no bairro mesmo, por quê?". Aí ele falou assim: "É que eu acho que conheço ele. Ele é daonde?". Respondi: "De Sergipe, se não me engano". "Seria de Saco das Varas?". Achei. Tá 'qui: Argemiro Vieira. O senhor conhece?

          Seu Jorge perdeu o equilíbrio e se encostou na bancada.

          – Seu Jorge? Qué isso, homem?

          O velho foi ficando com as vistas turvas. Foi tombando lentamente. O pessoal correu ampará-lo.
    Corre, Batista! Pega aí o carro!… Seu Jorge! Seu Jorge!

          Antes de apagar, Jorge Zuarte de Oliveira ainda viu dois, três fantasmas.

    Notícias Relacionadas