Não sei o que seria
Do mundo sem os magos,
Sem os contos de fadas.

Sem o antídoto da magia
Estaríamos à mercê de bruxas malvadas.
Já sem as fadas
Em vez do dom de voar,
Estaríamos para sempre condenados
– os pés, iguais aos répteis,
Sempre rentes ao chão.

Não sei o que seria dos homens
Sem os sonhos
E as barricadas que eles erguem
Para realizá-los.
Não sei que serventia teria a vida
Sem as utopias,
E os inventos, os instrumentos, os intentos,
Que se criam para alcançá-las.

Beijos ardentes,
Desencontros desconcertantes.
A vida se assemelha às vezes
A uma magia que não deu certo,
A uma barricada
Reduzida a uma ossada
Ou a escombros de sonhos.

Mas ao final das contas
E dos contos
Sempre o bem vence o mal.
Surge uma mulher
De lábios carnudos, iguais aos teus,
De uns olhos, do tamanho e da cor dos teus
De uma beleza e inteligência também iguais.

É noite de lua grande
Num campo gramado
Uma mesa forrada, toalha de branco linho,
Soa um violino.
E tua boca exala um buquê
De um vinho tão raro
Tão nobre,
Que nenhum magnata
Consegue arrematá-lo.

 

Adalberto Monteiro
As delícias do amargo & uma homenagem: poemas
Editora Anita Garibaldi – 1ª edição 2006

Adalberto Monteiro, Jornalista e poeta. É da direção nacional do PCdoB. Presidente da Fundação Maurício Grabois. Editor da Revista Princípios. Publicou três livros de poemas: Os Sonhos e os Séculos(1991); Os Verbos do Amor &outros versos(1997) e As delícias do amargo & uma homenagem(2007).