O amigo pergunta-me: por que o escândalo sobre a tal gripe suína? Mal surgiu e já está desmoralizada. Não é tão letal. Catarro comum mata mais. Dengue mata mais. Lombriga e andaço matam mais ainda. Digo que é coisa de novidade, ou talvez da associação com animais que algumas seitas acham impuros, os porcos. Então, o contaminado herda um pouco do imaginário e do destino suíno. Melhor seria mudar a designação para gripe de gringo, porque a maioria dos enfermos está nos Estados Unidos e não no México, que tem sua imagem e economia sacrificadas com a discriminação. Também porque a tal de gripe suína serviu bem para anteparo de novas aventuras do Tio San no Afeganistão. Barak Obama despejou ali mais uma horda de seus cães de guerra. Não vencem os talebans, mas causam genocídio e diáspora na população civil, sob aos bombardeios próprios e terceirizados pelo tetrarca do Paquistão. A gripe suína, questiona meu amigo: não serviria para disfarçar a propalada crise econômica, que nos últimos dias saiu das manchetes e em alguns lugares, como Brasil pré-eleitoral, já é contada como coisa finda? O país empresta dinheiro ao FMI, distribui para todos os escalões da burocracia corrupta e corruptora. Ceva a todos nos bonançosos peitos da nação, abastecidos com sangue de quem trabalha. Como não há esperanças de caras novas, nem de projetos que reponham a esperança do país, contentamo-nos com a reciclagem das enfadonhas caras dos mesmos atores. Seja com plásticas que disfarcem a sordidez dos personagens ou mesmo pela hilária propaganda que se faz do câncer. Deixa de ser a profecia de tânatos, para mostrar o rosto remanufaturado, palatável à simpatia e condescendência que alimenta o projeto do continuísmo político. Há no governo um campeonato de tumores que sobrepõe ao campeonato pastelão das farras congressuais, tribunalícias e presidenciais. Comove-nos a fragilidade e a humana vulnerabilidade das pessoas, mas não o uso que fazem de suas misérias. Com certeza, meu amigo, conversaríamos horas e dias sem concluirmos nada. Mais uma vez, a carnavalização vencerá. De truão em truão vamos concertando a função circense. E a cada dia vence o melhor ator, a melhor performance pantomímica. Se havia algum recato para a vergonha, glorifica-se agora o rato que rói o queijo. E o mais competente roedor, será sagrado rei, terá para si só e para seus afins o queijo inteiro, num mundo sem gatos ou ratoeiras. É até bem possível que num último reduto livre da palavra, alguém se insurja, enquanto, apesar, dos aleives, sobrevive a ágora do Diário da Manhã, sob a batuta sem censura de Batista Custódio. Este seria o sonho da liberdade de expressão, refúgio para as últimas mentes livres. Elas não pregam no deserto. Estão falando no meio do burburinho, porque aí falam todos. E o leitor cidadão escolhe o que quer ouvir e o que deve responder. O sentido agórico deste espaço de liberdade, pode juntar lobos e cordeiros e ao leitor cabe distinguir uivos de balidos, crocitar de abutres ou arrulhar de pombas.
Ágora, a livre expressão
O amigo pergunta-me: por que o escândalo sobre a tal gripe suína? Mal surgiu e já está desmoralizada. Não é tão letal. Catarro comum mata mais. Dengue mata mais. Lombriga e andaço matam mais ainda. Digo que é coisa de novidade, ou talvez da associação com animais que algumas seitas acham impuros, os porcos. […]
POR: Aidenor Aires
∙Notícias Relacionadas
-
Freud e Marx: conexões e divergências na busca pela compreensão humana
Entenda como Freud e Marx abordaram a história, a economia e a psique humana, destacando suas convergências e divergências na busca por uma visão científica da sociedade e da transformação humana
-
Desigualdades regionais no Brasil são um desafio histórico e contemporâneo
Entenda as raízes históricas e como políticas públicas e reformas estruturantes podem modificar o cenário de disparidades entre entre Sul/Sudeste e Nordeste/Norte/Centro-Oeste.
-
Utopia do estado mínimo traz impactos sociais na Argentina
Entenda como o antiestatismo da burguesia liberal, personificado por figuras como Milei na Argentina e ideólogos como Eugenio Gudin no Brasil, promove a redução do Estado e seus efeitos devastadores na economia e na sociedade, ampliando a pobreza e a desigualdade
-
Capital Digital-Financeiro: como as Big Techs monetizam dados e exploram o trabalho informacional
Análise remete a Karl Marx para explicar como plataformas como Google e Instagram monetizam dados de forma semelhante ao capital portador de juros e como os algoritmos exploram o trabalho informacional de bilhões de usuários
-
Seguem afiados os dentes do fascismo
Cida Pedrosa reflete sobre o avanço da extrema-direita no mundo, os reflexos no Brasil, a organização da resistência e a luta por um futuro plural e democrático
-
Trump e Gaza: o apoio do empreendedor ao projeto colonial e genocida de um século
Presidente dos EUA endossa o plano de expulsão dos palestinos e a "gentrificação" de Gaza. Saiba como o sionismo político e as potências internacionais têm impulsionado a colonização da Palestina
Usamos cookies para melhorar sua experiência de navegação,veicular anúncios ou conteúdo personalizado e analisar nosso tráfego. Ao clicar em “Aceitar tudo”, você concorda com o uso de cookies.