Uma geração que viveu as revoluções de esquerda e da contracultura, as guerras de independência na África e na Ásia, a guerra do Vietnã, as ditaduras latino-americanas, a queda do muro de Berlim e a disseminação da globalização e do neoliberalismo, funcionando como um “pensamento único”.

O resultado está em “Utopia e Barbárie”, documentário que está sendo lançado em oito Estados – São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Pernambuco, Bahia e Ceará.

“Utopia” e “barbárie” são, para o diretor, dois movimentos complementares, sucedendo-se um ao outro pela história.

O filme de Tendler é, assumidamente de esquerda, embora tente ouvir posições contrárias. Abre espaço para ex-integrantes da resistência, como Franklin Martins (atual porta-voz do governo Lula) e Dilma Roussef (ex-ministra da Casa Civil e pré-candidata presidencial pelo PT).

Ao mesmo tempo, ouve o poeta Ferreira Gullar, um dos mais notórios críticos do atual presidente e, nos anos 70, opositor da opção pela resistência armada ao regime militar.

Viajando nestes anos por 15 países, Tendler acumula entrevistas históricas – como a do lendário general Giap, 94 anos, o estrategista vietnamita que derrotou sucessivamente os colonizadores franceses, em 1954, e os invasores norte-americanos, nos anos 70.

O escritor uruguaio Eduardo Galeano, autor de uma das bíblias para o entendimento do continente, “As Veias Abertas da América Latina”, além do poeta Amir Haddad, do dramaturgo Augusto Boal, e os cineastas Denys Arcand, Gillo Pontecorvo e Amos Gitai, vêm somar suas posições. Todos reveem os erros e acertos desta geração que tentou mudar o mundo pelas ideias e pelas armas.

Juntando biografia pessoal com História, Tendler revisita suas raízes judaicas, mesclando a sua análise das utopias o sonho igualitário dos kibbutz de Israel. Esta digressão para o Oriente Médio, no entanto, ajusta-se mal aos demais assuntos tratados, talvez porque não se tenha feito uma amarração mais consistente.

Repleto de assuntos e personagens, “Utopia e Barbárie” é um instrumento eficaz para olhar o presente sem tirar os olhos do passado. Outro mérito está em mostrar materiais de arquivo eloquentes por si – caso do áudio da gravação da tristemente célebre reunião que aprovou o AI-5, em 1968.