Quantos sabem – eventualmente, poucos – que, mês passado, o spread do bônus francês de dez anos duplicou-se? E é possível que seus novos níveis não remetam a “alturas gregas”, mas que somente o fato de ter se aproximado das 50 unidades de base é um fato extremamente negativo para o governo de Paris, pelo menos, em níveis de psicologia, assim como de impressões.

O jornal britânico Financial Times, indireta, mas, claramente, prejulga as iminentes evoluções negativas. Em que consistem estas? Ao fato de que, lenta – mas segura e estavelmente – “sobe” do Sul europeu à hinterlândia do Velho Continente o vírus, “aproveitando” o menor motivo que lhe for proporcionado para disseminar-se, até ainda um comentário isolado.

No caso da França, por exemplo, seria suficiente uma simples declaração de um qualquer “figurão” do estado-maior econômico, de acordo com a qual trava-se verdadeira batalha para se manter a classificação de “AAA”, para fomentar evoluções. Mas algo análogo não ocorreu no caso da Hungria? Membros do governo magiar igualaram a situação fiscal do país com a da Grécia.

O resultado? Se não existissem o sábado e o domingo, Budapeste desabaria em ruínas. Mas apressou-se e derrubou o euro, o qual passou dos baixos níveis de 1,24 contra o dólar, aos 1,18 em menos de dez dias úteis, provando assim, na prática, que as previsões dos analistas europeus – que fazem questão de antecipar uma paridade inferior de 1,10 até o final deste ano – poderão ser confirmadas, dadas determinadas circunstâncias, embora ouviam-se vozes em meados de março deste ano considerando-as exageradas.

Também a Alemanha

Mas, naquele momento, ninguém poderia sustentar que “em breve virá a hora quando o francês CDS será mais alto do que o britânico”. E, mesmo assim, isto aconteceu, pela primeira vez, depois de longo tempo, durante os dias que passaram. As apólices de seguro contra eventual falência da economia francesa rendem hoje maiores desempenhos a todos aqueles que os preferem. E como se sabe, nestes casos, é bom não começar.

Algo assim viu também “Frau” Merkel nos últimos relatórios que lhe empurrou – goela abaixo – para fins de leitura e “conformação” o Bundesbank (Banco Central da Alemanha) e assim decidiu, sem pensar mais, avançar na decretação do conhecido programa de frugalidade economizando 80 bilhões de euros, até 2014, embora declarasse – com ênfase -que esta decisão constituiria o “tiro de misericórdia” contra a atual coalizão governamental majoritária.

As fortes manifestações na porta da Bolsa de Valores de Frankfurt, segunda-feira passada, não alteraram, sequer minimamente, as decisões de “Frau” Merkel. O “garote vil” do programa de frugalidade aplicado no pescoço dos alemães não será afrouxado.

Enquanto isso, um pouco mais ao norte de Londres, o recém-eleito primeiro-ministro da Grã-Bretanha, David Cameron, convocava seus compatriotas para que se acostumassem com a idéia: “Daqui para frente devemos botar o alto déficit nas nossas vidas”.

O que significa que há medidas iminentes de mais e maior frugalidade que farão com que os contribuintes britânicos paguem a alta dívida. E isso no caso dos britânicos é fácil. Eles se apoiam no conhecido provérbio “tomo coragem pelo drama dos outros”. No caso, dos europeus da Zona do Euro.

City contra o euro

No início da semana passada, o jornal britânico Daily Telegraph publicou uma pesquisa de analistas britânicos cuja maioria previa que “em um espaço de tempo que poderá estender-se de duas semanas até cinco anos, o euro não existirá mais”. O mal para os demais europeus diz respeito ao fato de que os “sabichões” gurus britânicos trabalham todos na City onde – como se sabe – desdenham o futuro (econômico) dos demais europeus.

E em meio de toda esta desordem, o spread dos bônus de dez anos da Espanha atingiu as 200 unidades de base, de onde o spread português jamais recuou nos últimos meses, enquanto, aqui, na Bélgica, coração da União Européia, despertaram uma manhã e constataram que o título belga aumentou, pela primeira vez, desde de março de 2009. Mesmo em 1%.

O fato já passou às terceiras, quartas e quintas páginas dos jornais da Europa, talvez porque seu valor já é limitado. Entretanto, constitui fato que o spread grego do título de dez anos está estabilizado, novamente, acima das 500 unidades de base, aproximando-se das 550.

Não será por acaso, se alguém pensar o ambiente em meio do qual se dramatizam as últimas evoluções. E anotem que, segundo boatos que circularam no final da semana passada, temia-se em Atenas que o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, anunciasse que – em algum momento – cessaria o fluxo de recursos ao país por intermédio do BCE, fluxo este que é o único neste momento.

Mesmo como suposição, esta eventualidade seria suficiente para causar arrepios na Grécia. Porque resposta à pergunta “e depois o que?” infelizmente, não existe ainda. E provavelmente, não existirá ao longo dos próximos 12 meses, pelo menos. E isto é o cenário otimista da questão.

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Fonte: Monitor Mercantil