O antigo primeiro-ministro Tony Blair anunciou, na segunda-feira, 16, que doará a totalidade dos lucros da venda do seu livro de memórias a uma organização dedicada à reabilitação de veteranos de guerra.

O anúncio do donativo fez as parangonas da imprensa, num momento em que o antigo líder trabalhista é alvo de sérias acusações que o tornam pessoalmente responsável pelo desencadear da guerra no Iraque e no Afeganistão.

Não foi certamente um acaso que a organização escolhida para receber o donativo seja a Battle Back Challenge Centre, um centro de reabilitação de estropiados da guerra que será aberto em 2012 pela Royal British Legion. Para Blair é uma forma de «reconhecer o enorme sacrifício que fizeram pela segurança do nosso povo e do mundo», segundo declarou o seu porta-voz.

Já para a coligação Stop the War (parem a guerra), a operação é meramente de cosmética através da qual Blair pretende «comprar a inocência». «As guerras do Iraque e do Afeganistão resultaram na morte sem sentido de centenas de soldados britânicos e de milhares de civis inocentes. Nenhum dinheiro lavará o sangue das suas mãos», declarou um porta-voz da coligação antiguerra britânica.

Crimes de guerra

Entretanto acumulam-se os factos que justificariam a condenação de Blair como criminoso de guerra. Segundo um artigo do jornalista britânico, John Pilger, na revista The New Statesman (04.08), para além das vítimas mortais, que algumas universidades calculam em mais de um milhão de mortos, há ainda a contabilizar quatro milhões de deslocados iraquianos e uma maioria de criança que sofrem de traumatismos e subnutrição. O número de casos de cancro nas cidades de Falloujah, Najaf et Basra (esta última «libertada» pelos britânicos) é superior aos registados em Hiroxima.

Em 22 de Julho passado, o secretário da Defesa, Liam Fox, declarou no parlamento que «as forças britânicas utilizaram, em 2003 no Iraque, 1,9 toneladas de munições com urânio empobrecido» Outras armas antipessoais tóxicas, como bombas de fragmentação, foram empregues pelas forças britânicas e americanas.

Esta carnificina, sublinha John Pilger, foi justificada por uma série de mentiras sucessivamente denunciadas. Em 28 de Janeiro de 2003, Blair declarou no parlamento: «Sabemos que existem ligações ente a Al-Quaeda e o Iraque». No mês passado, a antiga directora-geral das informações do MI5, Eliza Manningham-Buller, declarou perante a comissão de inquérito Chilcot: «Não existe nenhuma informação credível que indique tais ligações (…) [foi a invasão] que proporcionou a Ossama Ben Laden a oportunidade para uma jihad no Iraque». E interrogada sobre de que forma a invasão aumentou o perigo de terrorismo contra a Grã-Bretanha, a antiga responsável do MI5 respondeu: «significativamente».

Documentos publicados pelo tribunal supremo provam que cidadãos britânicos foram sequestrados, detidos e torturados com o conhecimento de Blair. Em Janeiro de 2002, Jack Straw, então ministro dos Negócios Estrangeiros, decidiu que a prisão de Guantánamo era a «melhor forma» de garantir que cidadãos britânicos permanecessem «detidos com segurança».

O dinheiro da guerra

Desde que deixou o cargo de primeiro-ministro, Tony Blair acumulou uma importante fortuna que é estimada, segundo Pilger, em 20 milhões de libras esterlinas (24,3 milhões de euros). Uma grande parte deste dinheiro, Blair deve-o às estreitas relações com a administração Bush. Embora não se conheça quanto recebeu pelos «conselhos» que prestou à família real koweitiana, nem ao gigante petrolífiero sul-coreano UI Energy Corporation, é publico que aufere anualmente cerca de dois milhões de libras como conselheiro do banco JP Morgan, a que se juntam remunerações de outras entidades financeiras, bem como milhões que lhe são pagos pelos discursos. Só um deles, proferido na China, rendeu-lhe 200 mil libras.

O jornalista britânico não esquece igualmente o trabalho «benévolo» de Blair enquanto «emissário de paz» no Médio Oriente. Para além das despesas de deslocação, Israel concedeu recentemente ao «emissário» um milhão de dólares a título de «prémio da paz». Concluindo, John Pilger sublinha que a fortuna de Blair aumentou rapidamente depois de ter desencadeado com George W. Bush um banho de sangue no Iraque.

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Fonte: jornal Avante!