O evento contou com a presença do economista Luiz Gonzaga Belluzzo — os demais palestrantes previstos, o ministro Samuel Pinheiro Guimarães e o presidente nacional do PCdoB Renato Rabelo, por problemas de agenda não puderam comparecer.

Barroso, que ocupa a diretoria de estudos e pesquisa da Fundação Maurício Grabois, iniciou as intervenções destacando que o livro é uma contribuição de fôlego para a temática do desenvolvimento. Segundo ele, a obra procura sistematizar os avanços dos oito anos de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e debater os grandes desafios que se apresentam.

Barroso destacou ainda que o livro desenvolve uma opinião crítica sobre os acontecimentos em âmbito mundial, lembrando que são considerados aspectos de uma conjuntura em evolução e involução. Refletir criticamente sobre esses acontecimentos, disse Barroso, é uma forma de também contribuir para o debate programático em curso na campanha eleitoral. Sua intervenção centrou-se na tese de que o desenvolvimento não pode prescindir da integração social.

Forças produtivas

Belluzzo pegou o gancho para desenvolver a idéia de que não se poder pensar o desenvolvimento de um lado e o projeto nacional de outro. Para ele, em boa parte do século XX o Brasil experimentou um projeto nacional que sofreu modificações conforme a evolução da sociedade burguesa. Lembrando que as sociedades e as economias estão em constante transformação — elemento já apontado por Karl Marx e Friedrich Engels no Manifesto do Partido Comunista —, Belluzzo destacou que as questões colocadas hoje como desafios para a periferia do capitalismo são de natureza mais complexa.

Segundo ele, a experiência do século XX mostrou que a evolução das forças produtivas não se traduz automaticamente em desenvolvimento do homem. Para romper a barreira do desenvolvimento, disse Belluzzo, é preciso considerar características inteiramente novas da realidade mundial. Ele citou o exemplo da China, que como nenhum outro país soube compreender as transformações do capitalismo. O Brasil, disse, está celebrando avanços mas é necessário não perder de vista que o país ainda está ultrapassando aquela fase de limitações impostas pela “era FHC”.

Belluzzo voltou à China para ilustrar seu ponto de vista, lembrando que aquele país não seguiu os ditames do Consenso de Washington e optou por abrir a economia promovendo processos de Joint Venture para manter o controle do Estado sobre variáveis como o comércio exterior, o câmbio e o investimentos em infra-estrutura por meio de bancos públicos. Foram decisões, lembrou, fundamentais para enfrentar com êxito a crise global de 2008. Para Belluzzo, o socialismo de mercado chinês é um modelo singular, que incorporou outras experiências asiáticas — como a do Japão.

Raio de ação

Voltando à economia nacional, o economista enfatizou que o Brasil deve perseguir a integração mundial preservando um raio de ação próprio. No âmbito interno, disse, o país precisa transitar das políticas ainda de corte assistencialista para as de efetiva integração social, empregando as pessoas em atividades socialmente produtivas. Belluzzo encerrou sua intervenção discorrendo sobre a degradação dos valores sociais, lembrando que a mídia está infestada de incivilidade. Para ele, a cultura deve ser um valor holístico, fundamental para romper a atual difusão do individualismo grosseiro.

O presidente da Fundação Maurício Grabois, Adalberto Monteiro, encerrou o ciclo de intervenções destacando que o livro é uma sequência do debate sobre o tema que se iniciou com o lançamento da obra Desvendar o Brasil durante o 12º Congresso do PCdoB. Ele lembrou que aquele livro faz uma reflexão sobre o ciclo de desenvolvimento dos anos 1930 aos anos 1970 e que este traz uma síntese desse processo levando em consideração os avanços dos dois mandatos do governo do presidente Lula. Para ele, este período recente é uma espécie de alicerce de um novo ciclo de desenvolvimento.