Isto, exatamente, praticam colossos empresariais hoje no mundo inteiro, acumulando liquidez que, no caso das empresas norte-americanas, atingiu no primeiro trimestre deste ano US$ 1,84 trilhão, total aumentado em US$ 382 bilhões no espaço correspondente do ano passado, enquanto a liquidez disponível de 331 empresas européias atingiu no final do ano passado o total de US$ 542 bilhões, contra US$ 345 bilhões há três anos.

Alguns analistas norte-americanos dizem que “a liquidez disponível das empresas norte-americanas operando em bolsas de valores totaliza, em média, 15% do valor de sua capitalização.

Como foram acumulados todos estes capitais? A imprensa internacional divulga com frequência notícias sobre as muito prometidas “montanhas de dinheiro”, mas o primeiro que se deve lembrar é que grande parcela desta liquidez representa endividamentos a baixas taxas de juros que as empresas contraem oferecendo suas debêntures com taxas de juros de até 1% a investidores que não encontram facilmente saídas alternativas.

Ao invés de investirem estes capitais ou contratarem recursos humanos, as empresas os mantêm “escondidos embaixo do colchão” para o caso em que a economia mundial recue em um segundo ciclo de queda.

Clima de deflação

Contudo, embora também este endividamento tem sentido para as empresas – considerando que é excepcionalmente barato – como prática representa um mau augúrio, porque essencialmente congela recursos econômicos contribuindo para a criação de um clima de deflação.

Porém, parcela desta liquidez disponível é resultado de economia de recursos por parte das empresas por causa dos extensos cortes, incluindo de seus recursos humanos em meio à crise.

Os pontos-de-vista sobre a importância destas “montanhas de dinheiro” na evolução da economia mundial divergem totalmente. Os mais otimistas mencionam iminentes “dias melhores” em compasso de espera de uma nova onda de aquisições, fusões e, investimentos.

Apesar de determinadas empresas estarem expandindo suas atividades, principalmente nos mercados em desenvolvimento, ou realizem aquisições encontrando oportunidades, a maioria mantém posição de stand-by.

Aliás, junto com sua liquidez disponível, o fato é que, em seu total, têm aumentado suas dívidas, considerando que grande parcela destas é resultado, tanto de endividamento, quanto de taxas baixas de juros.

Assim, esta história tem, claramente, seu lado escuro. As empresas não contraem novos recursos humanos – fato que comprova-se, claramente, pelos dados do desemprego na Europa e Estados Unidos, onde os gastos de consumo não aumentam. Com os gastos de consumo mantendo-se hipotônicos, as empresas não encontram razão para realizarem novos investimentos e assim está se conformando o círculo vicioso.

Queda provisória

Ken Goldstein, economista do Conference Board dos EUA, não vê razão “para as empresas começarem a dispor sua liquidez nos próximos 12 a 18 meses”. Realmente, dos estudos do grupo sediado em Nova York, e do qual Goldstein faz parte, avalia-se que no segundo semestre deste ano a economia norte-americana crescerá com baixos ritmos, da ordem de 1,5% até 2%.

O ponto-de-vista deste grupo de analistas que avalia estes dados é que a situação nos EUA – e por causa disto, também, mundialmente – se agravará novamente, antes de começar a melhorar.

Recorda-se, aliás, que embora, a economia norte-americana caracterize-se pelo crescimento nos últimos trimestres, nenhum organismo oficial internacional apressou-se a proclamar o fim da queda, como havia acontecido durante a época pós crise de 1975 e 1982. Hoje, a incerteza “vive e reina” e, junto com ela, também a liquidez.

Aliás, além da agonia por causa das evoluções no mercado de trabalho e dos gastos de consumo, os big shots das empresas norte-americanas manifestam suas incertezas sobre as mudanças do regime tributário que, provavelmente, o Governo Obama está preparando. Mas, no que diz respeito ao atual espaço temporal da desaceleração econômica, existe ainda uma oposição que projeta-se como “a luz no fim do túnel”.

Como argumentam os otimistas reservados, com a reação positiva que registrou durante meses o pacote de medidas de US$ 787 bilhões do Governo Obama, o mundo atingiu uma fase na qual a iniciativa cabe aos empresários. O mundo torna-se testemunha de desaceleração provisória, a qual caracteriza como o prazo exigível para a iniciativa passar do setor público ao privado. É isso mesmo.

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Fonte: Monitor Mercantil