Pouco falada pelos candidatos a presidente e aos governos estaduais, a pesquisa científica e tecnológica é estratégica para o crescimento do país. Os próximos governantes terão pela frente o desafio de alavancar a produção nacional para colocar o Brasil na lista dos principais produtores de ciência e tecnologia do mundo. Atualmente, cerca de 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB) — a soma de todas as riquezas produzidas no Brasil — vão para a ciência e tecnologia, segundo dados do Ministério da Ciência e Tecnologia. Em outros países, como Japão, o percentual é superior a 2%. O Brasil responde por 2,7% da produção científica mundial, ocupando a 13ª posição no ranking internacional.

Para cientistas e pesquisadores, um dos obstáculos a superar é promover o diálogo entre as universidades e as empresas privadas ¿ problema também vivido por outros países da América Latina. O presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Marco Antônio Raupp, aponta como alternativa a criação de institutos para promover uma maior interação entre os mundos acadêmico e empresarial, semelhante ao que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) faz para entrelaçar os interesses dos pesquisadores e do agronegócio. “Pode ser uma empresa ou um sistema de instituto voltado a intermediar as demandas do setor privado com o que é produzido nas universidades.”, disse o físico Marco Antônio Raupp.

Outro desafio a ser enfrentado é o de promover o hábito da inovação tecnológica nas empresas. A maior parte dos investimentos no setor é de recursos públicos. Em 2008, o investimento nacional em pesquisa e desenvolvimento foi de R$ 32,7 bilhões, sendo 54% de recursos públicos, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), quase 80% por cento das empresas brasileiras desconhecem os instrumentos financeiros de apoio à inovação tecnológica ou as leis de incentivo fiscal para quem investe no setor, como as leis do Bem e da Inovação, que possibilitam isenção do Imposto de Renda ou da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). “É preciso facilitar o desenvolvimento de pesquisas no setor privado”, afirmou o matemático e presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Jacob Palis.

Documento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgado em maio deste ano, traz observações dos empresários sobre as principais dificuldades para inovar: custos elevados, riscos econômicos, escassez de fontes de financiamento, falta de mão de obra qualificada e ausência de cooperação entre empresas e institutos de pesquisa. De 2003 a 2005, pouco mais de 30% das empresas brasileiras criaram algum produto ou processo. Entre as pequenas e médias empresas, a taxa de inovação é inferior à média nacional, contra 80% das grandes. De acordo com a CNI, a compra de máquinas e equipamentos equivale à metade dos gastos com inovação tecnológica.

O vice-presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei), Guilherme Marco de Lima, defende os projetos de parcerias a longo prazo e reclama que os atuais mecanismos de financiamento para a inovação não acompanham o ritmo do processo da iniciativa privada. “As datas de muitos editais [com recursos para financiar desenvolvimento tecnológico], por exemplo, não coincidem com o período de formulação de projetos das empresas”, disse.

Para a chefe de Divisão de Ciência e Tecnologia do BID, Flora Painter, o Brasil dispõe de bons instrumentos de apoio financeiro à pesquisa científica e tecnológica, porém alerta para a falta de articulação entre empresários e pesquisadores. “Em termo de disponibilidade de instrumentos para fomento da inovação, o Brasil, provavelmente, tem mais instrumentos do que qualquer outro país da América Latina. Quando fui aos estados e conversei com o setor empresarial, escutei queixas de que eles [mecanismos] são burocráticos, lentos e não tem suficiente informação”, disse.

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Fonte: Agência Brasil