Desde a década de 1940, Câmara Ferreira militou no Partido Comunista e teve papel importante na montagem de vários jornais desta organização. Durante a ditadura militar, já na direção da Ação Libertadora Nacional (ALN) e como Comandante Toledo, participou do rapto do embaixador dos Estados Unidos. Ação que garantiu a libertação de vários presos políticos. Depois disso passou a ser uma das pessoas mais perseguidas pela ditadura. Preso em 1971, morreu nas mãos da repressão. A obra de Luiz Henrique é uma importante contribuição para história da esquerda brasileira.

A Fundação Maurício Grabois publica abaixo a apresentação escrita pela historiadora Marly Vianna.

Joaquim Câmara Ferreira, o Velho Zinho
por Marly Vianna *

A publicação da pesquisa de Luiz Henrique de Castro Silva sobre a vida e a militância de Joaquim Câmara Ferreira é bem-vinda em muitos aspectos, sendo o principal deles levar ao conhecimento do público a história de uma notável personalidade política. Em segundo lugar, o trabalho abarca importante período de nossa história, de um modo geral tratado apenas pelos militantes do período, da chamada esquerda armada. Além disso, Luiz Henrique trata das questões de um ponto de vista instigante, que podemos resumir no seguinte: o que leva uma pessoa a morrer por um ideal? Que motivações, além da política, levam um militante a não abandonar a luta, mesmo quando ela está claramente perdida?

Para responder a essas questões, Luiz Henrique mergulhou a fundo na vida de Câmara Ferreira, e, apesar da escassa documentação produzida pela Ação Libertadora Nacional (ALN), conseguiu material suficiente para embasar suas conclusões. Baseou-se, para isso, na história oral, entrevistando dezenas de pessoas que conviveram com Câmara Ferreira, seja em sua vida pessoal, seja nas suas atividades políticas, desde o início dos anos 1930.

Há personagens importantes de nossa história sobre quem – com plena justiça – muito já se escreveu. Mas há outros, como Joaquim Câmara Ferreira, de igual importância, e que, por sua modéstia e atuação nos bastidores da clandestinidade, ficaram na sombra. Creio mesmo ser este o primeiro trabalho publicado exclusivamente sobre Joaquim Câmara Ferreira.

Apesar de sua intensa atividade jornalística e política quando militava no Partido Comunista (PCB), Câmara foi o homem da organização, da minuciosa construção, na clandestinidade da organização política da ALN, que ajudou a fundar, juntamente com Carlos Marighella e outros revolucionários. Foi para que não se perdesse a vida pessoal e a trajetória revolucionária de Câmara Ferreira que Luiz Henrique escolheu-o para tema deste trabalho. Apesar da distância de situações históricas, de opções políticas e de gerações, foi notável a empatia entre o autor e seu biografado. Notável o encantamento de Luiz Henrique, católico militante, pelo comunista militante da luta armada. A pesquisa acadêmica transformou-se em entusiasmado respeito pela personagem, de quem procurou seguir os passos minuciosamente.

Luiz Henrique buscou explicar as opções políticas de Câmara Ferreira a partir do posicionamento do militante que colocou o compromisso de transformar o mundo acima de qualquer outra coisa. O que provocou sua admiração foi o excepcional comportamento humanista e ético de Câmara, sua disposição de lutar pelo socialismo, sua solidariedade com os jovens entusiasmados com a luta armada. Quem convive com Luiz Henrique e conhece suas próprias atitudes éticas e humanistas pode entender a empatia entre narrador e personagem.

Estou certa de que o Velho Zinho ficaria emocionado com a seriedade e o carinho com que foi tratado neste trabalho, por alguém muito jovem nos anos em que ele enfrentou a ditadura no Brasil.

Podemos dizer que agora haverá sempre flores para Câmara Ferreira.

*Marly de A. G. Vianna é professora aposentada da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e professora do mestrado em História do Brasil da Universidade Salgado de Oliveira (Universo)