No Cairo foram muitos os cartazes de agradecimento à Al-Jazira ( DYLAN MARTINEZ/REUTERS)
"Esta talvez seja a maior história que alguma vez cobrimos", disse o director-geral da Al-Jazira, Wadah Khanfar, numa conferência no início de Março na Califórnia, sublinhando o significado histórico dos processos revolucionários em curso no Médio Oriente. Mas, intencionalmente ou não, a sua frase também pode ser lida como um comentário sobre o momento que a estação árabe está a viver.

Nos últimos meses tornou-se comum ouvir dizer que, sem a Al-Jazira, as revoluções na Tunísia e no Egipto dificilmente teriam acontecido. Por outro lado, a sua cobertura jornalística dos acontecimentos deu-lhe uma popularidade sem precedentes nos Estados Unidos, país com o qual tem uma história de tensão, quando não hostilidade.

As páginas de opinião da imprensa americana têm repetido que as revoluções no mundo árabe são para a Al-Jazira o que a Guerra do Golfo foi para a CNN: o momento de emancipação em que um canal de notícias se sobrepôs a todos os outros, ao ponto de se tornar a referência. Isso é verdade para a Al Jazira English, o canal em inglês da estação do Qatar (o canal árabe é, desde há muito, popular no Médio Oriente).

Durante a revolução egípcia, canais de informação da televisão por cabo americana, incluindo a CNN, retransmitiram imagens captadas pela Al-Jazira. Alguns dos seus pivôs agradeceram e elogiaram o trabalho do canal árabe.

As visitas ao seu site, onde é possível acompanhar a emissão em directo, subiram 2500 por cento (leram bem: dois mil e quinhentos) durante o pico dos protestos no Egipto. Os Estados Unidos representam metade dessa percentagem. A Al-Jazira não é exibida nas televisões americanas porque não está incluída na oferta de canais das companhias de cabo.

O que é que levou mais de milhão e meio de americanos a preferir a Al-Jazira? "Porque não conseguiram encontrar a história noutro sítio", diz ao PÚBLICO o director da sede americana da Al Jazeera English, Muhammad Cajee, um homem pequeno de olhos grandes. "Nenhuma das estações americanas tinha as mesmas condições que a Al-Jazira English para poder cobrir a história de forma tão completa como nós fizemos. Nesses casos, o público tem uma grande necessidade de encontrar informação em tempo real. Os espectadores não querem esperar pelos artigos que saem no dia seguinte, nem pelas opiniões dos analistas americanos. Querem ver o que está a acontecer no terreno, através das pessoas que estão lá, e foi isso que a Al-Jazira deu. Tem-se dito que no Departamento de Estado as televisões estavam ligadas na Al-Jazira como o ponto de referência para saber o que estava a acontecer. E isso foi o que se passou na primeira Guerra do Golfo: toda a gente tinha a CNN ligada para saber o que estava a acontecer em tempo real."

Em Washington, a Al-Jazira ocupa seis pisos de um edifício na K Street, onde existem mais lobbies por metro quadrado do que em qualquer outra rua da cidade. Não há nenhuma placa ou indicação na rua que identifique o local com a Al-Jazira.

A sede em Washington é responsável por quatro horas de emissão diária, mas com os recentes desenvolvimentos no Médio Oriente, Doha, no Qatar, centralizou as operações. Com cerca de 120 jornalistas (mais 20 do canal árabe), a redacção de Washington cobre o noticiário relativo aos Estados Unidos e serve também de centro de operações para todas as delegações que a estação tem no país e em todo o continente americano – a Al-Jazira tem uma maior presença na América Latina do que a BBC ou a CNN. O estúdio, com duas bancadas que parecem carrinhos de linhas gigantes, é menos ambicioso do que os de algumas escolas de jornalismo americanas. O mais notável é a juventude da redacção: ninguém parece ter mais de 40 anos.

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Fonte: Público