Os dados refletem a conjuntura atual, para o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa. Setores com nível de atividade forte são mais propensos a pedir crédito, com objetivo de alavancar os negócios, lembrou o economista. “As grandes forças da economia, atualmente, são os setores de comércio e de serviços. O setor de infraestrutura está bem mais dinâmico agora. Já a indústria está estagnada há um ano”, disse.

A agilidade maior nos pedidos de crédito por parte de comércio, serviços e infraestrutura, em comparação com o interesse por financiamentos da indústria, deve continuar, na análise de Rosa, caso o cenário se mantenha.

Entre as mudanças na distribuição da carteira do banco, o destaque positivo foi comércio e serviços, cujas liberações quintuplicaram de 2006 para 2011, a maior velocidade de crescimento entre os setores. Fatores como renda e crédito em alta, aliados à ausência quase completa de concorrência com importados, levaram ao cenário favorável, afirmou a chefe do departamento de bens de consumo, comércio e serviços do BNDES, Ana Cristina Rodrigues da Costa. “É a pujança do mercado interno”, afirmou. Também não descartou continuidade do ritmo mais ágil por pedidos de crédito do setor.

Entre 2010 e 2011, houve acréscimo de R$ 2 bilhões nos desembolsos para comércio e serviços. Desse total, quase a metade (R$ 934 milhões) foi destinada ao varejo, de acordo com a chefe de departamento. Outro fator que impulsionou esse o crescimento foi o cartão BNDES. Criado em 2003 para operações de menor porte (até R$ 1 milhão), a modalidade atraiu o pequeno varejista.

De acordo com analistas, esse apetite por crédito pode continuar, visto que as estimativas são de continuidade do cenário favorável para empresas varejistas, atacadistas e de e serviços. “Para 2012, nossas projeções são de crescimento de 6% para a atividade de comércio”, disse Rosa. A projeção é similar à do sócio-sênior e diretor da consultoria especializada em varejo GS&MD Gouvêa de Souza, Luiz Goes, que estima alta entre 6,5% e 7,5%.

A perspectiva para a infraestrutura também é positiva. O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, antecipou no fim do ano passado em evento na Confederação Nacional da Indústria (CNI), que os desembolsos para o setor devem crescer 10% em 2012.

Porém, o otimismo não ronda as projeções para a indústria, único setor a perder participação no total de desembolsos de 2006 para 2011. As projeções para atividade e investimento industriais não são animadoras, segundo especialistas. A SulAmerica prevê alta de 1,4% na atividade industrial este ano. Embora melhor do que a do ano passado (0,3%), ainda está longe do ideal, de acordo com Rosa.

Essa estimativa não é muito diferente da feita pelo Instituto de Estudos para Desenvolvimento Industrial (Iedi), que projeta alta de 2%. “Era maior nossa projeção, mas revisamos para baixo, após queda de 2,1% da produção industrial de janeiro contra dezembro de 2011”, disse o consultor do Iedi, Rogério Souza.

No caso dos investimentos, a Sondagem da Indústria da Transformação, divulgada pela Fundação Getulio Vargas (FGV), já tinha detectado um baque na estimativa de investimentos. A FGV apurou, nos dois primeiros meses do ano, a menor projeção em três anos para aumento de investimentos em expansão de capacidade para o período entre 2012 e 2014.

O desânimo industrial é visto com preocupação pelo economista Samuel Pessôa, sócio da Tendências Consultoria. Além da concorrência acirrada com importados, o setor teve que lidar com a maior demanda global por bens primários, o que reforçou investimentos no segmento, em detrimento a ramos mais especializados. Além disso, o custo de mão de obra subiu acima da produtividade. Na prática, isso não estimulou novos investimentos industriais e ajudou a diminuir o apetite por crédito. “A indústria de transformação não vai acabar. Mas, no longo prazo, vai continuar a perder espaço na economia”, disse Pessôa.

Essa perda de espaço é visível nos dados do IBGE. A fatia da indústria da transformação dentro do PIB recuou de 17,4% para 14,6% de 2006 para 2011. “É uma realidade na história econômica recente do país”, afirma Carlos Sobral, pesquisador do instituto.

 

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Fonte: Valor