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    Comunicação

    A arte de fazer perguntas

    Trata-se de algo evidente: que os resultados das pesquisas dependem das perguntas que fazemos. Escolhê-las e definir como fraseá-las é uma etapa decisiva de qualquer uma, pois tende a pré-determinar suas conclusões.   Isso se aplica à redação e à sequencia em que as perguntas aparecem nos questionários. Indagar, por exemplo, sobre o governo após […]

    POR: Marcos Coimbra

    Trata-se de algo evidente: que os resultados das pesquisas dependem das perguntas que fazemos. Escolhê-las e definir como fraseá-las é uma etapa decisiva de qualquer uma, pois tende a pré-determinar suas conclusões.

     

    Isso se aplica à redação e à sequencia em que as perguntas aparecem nos questionários. Indagar, por exemplo, sobre o governo após mencionar “os problemas nacionais” pode induzir o entrevistado a pensar neles ao responder e a fazer cair a avaliação, o que não ocorre quando são citados depois de a caracterizar.

    Se determinado resultado é esperado, é possível formular o questionário de modo a que outras perguntas o sublinhem ou enfraqueçam. Quando destinadas à divulgação, esse é um aspecto fundamental para compreender a pesquisa e as motivações de seus contratantes.

    Tomemos o caso em apreço.

    Realizada nos dias 18 e 19 de abril, a pesquisa do Datafolha não trouxe novidade. Seus resultados foram iguais a vários outros disponíveis.

    Mostram o que todos sabíamos – que Dilma vai bem, que seu governo tem aprovação elevada e bate recorde atrás de recorde, na comparação com seus antecessores em momento parecido. A pesquisa não poderia, portanto, provocar comoções no sistema político.

    Nada mudou com ela. Depois de a ler, apenas continuamos informados que a presidente vem ultrapassando situações de desgaste sem arranhões. Que se mantém a tendência de crescimento da simpatia com que é vista pela opinião pública.

    Esse aspecto da pesquisa – o mais relevante, mesmo que não inédito – perdeu, no entanto, destaque na divulgação. A Folha de São Paulo, jornal que a contratou, preferiu chamar a atenção para outro tópico: que, entre Lula e Dilma, a maioria prefere o ex-presidente como candidato do PT em 2014.

    Obviamente, esse resultado só estava disponível porque alguém havia tomado a decisão de incluir a pergunta no questionário. Para quê?

    Talvez para juntar duas coisas conhecidas em uma manchete – que Dilma é bem avaliada e que Lula é uma pessoa querida pela maioria da população – parecendo dizer uma novidade.

    Mas não são ambas coisas notórias?

    O xis da questão é o emprego de uma conjunção adversativa: um “mas” colocado entre elas. O que a manchete estampava era “Dilma tem aprovação recorde, mas Lula é favorito para 2014”.

    A expressão sugere que nem tudo são flores para a presidente. Que ela está bem… mas, porém, contudo, todavia, no entanto. Que alguma coisa tolda seu bom desempenho.

    Qual a razão de uma pergunta sobre quem é “o melhor candidato do partido”? Será que, por Lula estar à frente de Dilma nesse comparação, seria válido deduzir que o ex-presidente é o “favorito” – em detrimento dela – no que realmente conta, que são as chances de vencer a próxima eleição?

    Quando, nas pesquisas atuais, os nomes de Lula e de Dilma são apresentados nos cenários de voto estimulado – frente a possíveis adversários de diversos partidos – o que se vê é o franco favoritismo de ambos: Dilma no patamar dos 60%, Lula no dos 70%.

    Ou seja, para ganhar a eleição, os dois são favoritos. O que é um resultado ótimo para Dilma, considerando sua trajetória e o momento que experimenta. Para Lula, nem se precisa dizer.

    A manchete só foi possível por haver no questionário aquela pergunta, cujo interesse técnico é escasso. Ela só lá estava para ser usada politicamente.

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    Fonte: Correio Braziliense

     

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