“Foram obtidas evidências de que é possível utilizar a fase de baixo crescimento econômico induzida pela crise internacional para reduzir o nível da taxa Selic sem comprometer o controle inflacionário”, afirma o texto. “Fases recessivas devem ser aproveitadas para reduzir os juros”, reforçou Thiago Martinez, coordenador de Economia Monetária e Câmbio do Ipea, ao divulgar o trabalho. Ele lembrou que o Brasil ainda tem uma das taxas de juros mais altas do mundo.

O governo esperava que em 2012 a economia se acelerasse em relação a 2011, ano em que o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou apenas 2,7%. O agravamento da crise internacional nas últimas semanas, porém, reduziu as expectativas de crescimento. Com isso, espera-se que o Banco Central continue reduzindo a taxa básica de juros, que desde agosto de 2011 já recuou de 12,5% para 9% ao ano.

Os resultados do estudo do Ipea corroboram o pressuposto de que o impacto dos choques de juros não depende apenas da magnitude e do sentido dos mesmos (para cima ou para baixo). Depende também do estado da economia.  Segundo Martinez, a consideração desse tipo de assimetria é um importante diferencial desse novo estudo em relação a outros trabalhos produzidos no Brasil sobre os efeitos da política monetária.

O período analisado para construir as simulações foi de julho de 2003 a dezembro de 2010. Foram adotados dois tipos de cenário para o nível da atividade industrial. O cenário de “baixo crescimento” pressupõe que a produção da indústria cresça no máximo 0,71% por trimestre, ou 2,87% ao ano. Nos cenários de “crescimento normal”, se eleva acima desses níveis.

No que se refere à taxa básica de juros, o estudo considerou apenas elevações ou quedas além do que seria esperado, ou seja, situações em que há choque contracionista (aumento dos juros) ou expansionista (queda) da política monetária.  “Não foram consideradas quaisquer elevações ou quedas de juros; só as não antecipadas”, disse Thiago Martinez, referindo-se à trajetória de juros no cenário base adotado.

As simulações mostraram que, em períodos de baixo crescimento, choques expansionistas de política monetária, isto é, quedas inesperadas de juros, quase não têm efeito sobre a atividade industrial. Sozinhas, não são, portanto, suficientes para reerguer a economia. Por outro lado, também não aumentam a inflação.

O estudo sugere ainda que elevações inesperadas da taxa básica de juros para conter a inflação têm eficácia limitada em momentos em que a economia está crescendo normalmente. “Em um regime de crescimento normal, o IPCA é rígido em relação a choques monetários contracionistas”, diz o texto. Conforme Thiago Martinez, as simulações indicaram que só se consegue efeito relevante sobre a inflação, nesse caso, fazendo um choque mais forte de juros (de dois desvios-padrão).

Choques de juros “pequenos” (de um desvio-padrão) “só provocam queda significativa da inflação se a economia estiver em regime de baixo crescimento”, afirma ainda o texto divulgado pelo Ipea.

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Fonte: Valor