Os bancos do Chipre reabriram nesta quinta-feira 28 sob vigilância policial após doze dias de fechamento, embora os clientes só estejam autorizados a retirar 300 euros diários devido às restrições impostas para evitar uma fuga de capitais da ilha, salva da quebra por seus sócios europeus. Uma parcela muito grande dos depositantes é estrangeira, portanto, se pudessem, tirariam tudo que têm daqueles bancos.
Esta é a primeira vez que um país da Eurozona (formada por 17 membros) impõe restrições ao movimento de capitais. Várias empresas cipriotas têm dificuldades de funcionar normalmente, e muitas delas podem estar condenadas à quebra, segundo a Câmara de Comércio cipriota.
A medida de confisco dos depósitos, bem conhecida dos brasileiros, causa profunda instabilidade na confiança dos investidores nos bancos europeus. Assim como Chipre, o sistema bancário europeu não transmite confiança, como já ocorreu na Islândia. A Comunidade Europeia ainda não decidiu qual o tamanho do prejuízo para os depositantes, que serão sobretaxados e podem perder até 40% do que depositaram.
A ilha de Chipre, no Mar Mediterrâneo, era considerada um paraíso fiscal, que recebia fortunas de milionários russos. Desconfia-se que muito dessa fortuna seja ilegal, o que transforma o sistema bancário do país numa lavanderia de dinheiro da máfia russa. O governo russo tem interesse em um acordo com os cipriotas para obter informação completa sobre os depósitos russos para identificar quais dos seus cidadãos está devendo ao fisco. Também tem interesse que, em meio ao caos da falência, o país não cobre de cidadãos milionários russos o custo de sua falência. Segue-se o impasse.
Contando as moedas
Dezenas de pessoas fizeram fila em frente aos bancos pouco antes da abertura das agências, ao meio-dia local. Algumas agências, no entanto, permaneceram fechadas após o horário de abertura, gerando inquietação e revolta entre os clientes, que chutavam as portas. Cerca de cinquenta pessoas faziam fila em frente ao Bank of Cyprus, no centro de Nicósia. Em outros bancos, as filas eram menores. Os bancos já vêem de um longo feriado bancário, em que ninguém pode movimentar suas contas.
Os bancos devem permanecer abertos durante seis horas. Os clientes poderão retirar um máximo de 300 euros por dia, os pagamentos e transferências ao exterior não poderão superar os 5.000 euros por mês e os viajantes que deixarem a ilha só poderão levar consigo 1.000 euros em dinheiro.
Já os cheques só poderão ser depositados em contas, e não retirados em dinheiro, diferentemente do que muitos cipriotas costumam fazer.
O governo justificou as medidas, que a princípio só serão aplicadas durante quatro dias, pela “falta de liquidez substancial e pelo grande risco de fugas de capitais, com a possível consequência do colapso das instituições de crédito”.
Custo social
As bolsas europeias operavam com prudência, embora o euro se mantivesse desde quarta-feira à noite abaixo de 1,28 dólar, seu menor nível em quatro meses. As autoridades bancárias, com medo de cenas de caos, pediram na quarta-feira para que fosse concedida prioridade nas filas aos idosos – que geralmente não têm cartões de crédito – para que pudessem sacar o dinheiro de suas aposentadorias.
O sindicato dos empregados bancários, ETYK, pediu aos clientes que não dirijam sua frustração contra eles. ”Como funcionários do banco, não somos responsáveis, pelo contrário, nossos colegas são, eles mesmos, vítimas de atos criminosos que conduziram a este desastre e que colocaram muita gente sob esta situação muito trágica”, disse o sindicato em um comunicado.
A reestruturação do setor acordada com a troica de credores internacionais do Chipre – União Europeia (UE), Banco Central Europeu (BCE) e FMI – prevê a liquidação do Laiki Bank e a absorção de suas atividades pelo Bank of Cyprus, o maior do país. Estes dois bancos têm 5.600 empregados em seu quadro de funcionários, em um país de 850 mil habitantes. Como seus depósitos bilionários, a quantidade de trabalhadores nos bancos é desproporcional ao tamanho do país, por a dimensão catastrófica da falência bancária.
A Europa impôs ao Chipre um preço “muito elevado, que gera inquietação e raiva”, estimou o ministro cipriota das Relações Exteriores, Ioannis Kasulidis.