Sistema político

Alberto Carlos Almeida falou em seguida, começando pelo resgate de fatores que ele considerou importantes para deflagrar as manifestações. Recordou o movimento contra a passagem de ônibus e registrou que a mídia começou a criticar os manifestantes para logo em seguida mudar o tom da cobertura, dando apoio aos protestos. Lembrou que a Copa das Confederações é relevante nessa história toda. E constatou que a escolaridade média dos manifestantes era bem mais alta do que a da população brasileira, com tem o dobro da formação dos seus pais.

Para ele, o que motivou as manifestações foi a exploração pelo “sistema político”, um sentimento de que povo estava contribuindo mais do que estava recebendo. Um aspecto importante na agenda dos protestos, segundo ele, é que não houve um alvo claro. Isso não significa que as manifestações não tenham sido claras em sua agenda. Segundo Alberto Carlos Almeida, as pessoas reclamaram dos serviços com ênfase. E a maioria da população não foi às ruas, mas apoiou os manifestantes. Os setores que mereceram críticas justificaram esse apoio.

Em primeiro lugar estava a saúde. Depois o transporte público. E em seguida a segurança pública. A educação não foi muito importante, segundo Alberto Carlos Almeida, por se tratar de uma questão que a sociedade considera equacionada. O importante é continuar o que vem sendo feito, ter mais do mesmo. Para ele, a população quer que os governos federal, estadual e municipal tenham atitudes claras para resolver esses problemas. E constatou que esse tipo de protesto que aconteceu no Brasil é clássico de situações de melhorias. Porque a situação melhora e as pessoas querem mais, lembrou.

Segundo a avaliação de Alberto Carlos Almeida os protestos ocorreram em um momento de melhorias no país. Antes do dinamismo econômico, há 20 ou 15 anos, o pobre no Brasil achava que seria pobre a vida inteira. E considerava que seu filho também seria pobre. Ele tinha na cabeça que a pobreza era inevitável. Hoje ele não tem mais isso na cabeça, afirmou. Ele deixou de ser pobre nos últimos dez anos. Ou seja: se ele deixou de ser pobre, o que achava inevitável, agora quer melhorar tudo. E o filho dele, que aprendeu conceitos novos, mais ainda. O problema, diagnosticou Alberto Carlos Almeida, é que o sistema político não acompanhou essa mudança.