O ex-sindicalista brasileiro Dirceu Luiz Messias, de 72 anos, foi barrado neste sábado (07/09) no aeroporto de Santiago (Chile) e devolvido ao Brasil. Ele havia viajado a convite de organizações de direitos humanos para participar dos eventos de 40 anos do golpe de Estado que derrubou Salvador Allende e iniciou a ditadura de Augusto Pinochet.

Messias é um dos sobreviventes do Estádio Nacional, para onde foram levados opositores de Pinochet após o golpe de 11 de setembro de 1973.

O ex-sindicalista desembarcou na capital chilena por volta das 19h45. Ao iniciar os trâmites para o seu ingresso ao país, teve o seu documento de identidade confiscado e começou a ser interrogado por diferentes policiais da PDI (Polícia de Investigações, responsável pelo trâmite de aeroportos e fronteiras).

“Passei horas de pé respondendo perguntas que se repetiam: de onde eu vinha, o que vinha fazer exatamente no país, como e quando havia estado no Chile anteriormente, e apesar de responder tudo, eles insistiam em perguntar”, relatou o brasileiro, que disse ter enfrentado quase uma hora de perguntas.

Sofá no aeroporto

Ao final do interrogatório, os policiais chilenos informaram Messias que ele não poderia ingressar no país, segundo ele, sem oferecer nenhum motivo para justificar essa decisão. “Um dos policiais me levou, de forma agressiva, para um sofá, onde eu teria que aguardar. Eu perguntava o motivo do impedimento e ele não me dizia, pedia para poder falar com alguma das pessoas que estavam esperando por mim na sala de desembarque, e ele também me negou esse direito”, contou ele, em entrevista para Opera Mundi.

Abandonado na sala de desembarque, Messias teve que dormir no sofá onde o policial lhe deixou, improvisando um travesseiro com as jaquetas que trazia. Disse que, antes de dormir, permaneceu acompanhado por funcionários da TAM.

Segundo ele, um dos policiais foi até o sofá e teria feito insinuações como “sabemos por que você veio aqui e não permitiremos que você venha aqui causar desordem”. “Foi uma situação constrangedora, e a gente acaba se sentindo um pouco como naquela época, em que era tratado como terrorista”, afirmou o ex-sindicalista.

Após quase 12 horas preso no aeroporto, Messias foi obrigado a embarcar em um voo da TAM, que partiu às 7h15 do domingo (08/09) e o levou primeiro a São Paulo, e de lá para Porto Alegre. O passaporte ficou retido por funcionários da empresa aérea até o desembarque na capital gaúcha.

Ditadura

Messias viveu em Santiago entre 1969 e 1973. Havia fugido do Brasil porque era perseguido pela ditadura. Dias depois do golpe chileno, foi capturado pelos militares e levado ao Estádio Nacional.

Permaneceu durante oito dias, sofrendo diferentes tipos de tortura, até conseguir um salvo-conduto que permitiu sua saída para a Embaixada da Suécia, país onde conseguiu seu segundo exílio. Desde então, o nome de Messias foi incluído em uma lista de pessoas com restrição para entrar no país, junto com os de vários outros sobreviventes do Estádio Nacional que também foram salvos pela intervenção de embaixadas estrangeiras.

A reportagem de Opera Mundi procurou a assessoria de imprensa da PDI, que afirmou que fará uma averiguação para determinar a razão pela qual foi impedida a entrada de Messias ao país, o que deverá apresentar resultados dentro de uma semana.

A Embaixada do Brasil no Chile tomou conhecimento do caso somente no domingo pela tarde, quando Messias já havia deixado o país. Segundo o ministro-conselheiro Carlos da Fonseca, o nome de Messias constava em uma lista de pessoas com restrição para entrar no país.

Fonseca afirmou também que a Embaixada solicitou formalmente ao Ministério de Relações Exteriores do Chile uma explicação sobre o caso de Messias, e disse que trabalhará para tirar da lista o nome dele e de outros brasileiros que foram detidos no Chile nos tempos da ditadura e que também possam estar restringidos.

Publicado em Opera Mundi