“Sob a orientação direta de Ho Chi Minh, foi iniciada no inverno de 1950 a campanha das fronteiras até a primavera de 1953, na qual o povo e o exército regular do Vietnã conseguiram superar uma nova etapa — plena de duras provas mas com grandes honras também — que desembocou no caminho para avançar em um ponto de encontro com a história: a batalha de Dien Bien Phu, meio ano depois, durante o inverno-primavera de 1953/1954”. Com estas palavras o general Vo Nguyen Giap encerrou seu livro “O caminho de Dien Bien Phu”, publicado em 2006.

Neste 7 de maio o Vietnã comemorou os 60 anos do final da batalha que liquidou com o exército colonial francês, numa região ao norte do país que fora utilizada como uma das principais bases de distribuição e venda de ópio na península da Indochina, região que se manteve colônia da França por 98 anos, ou seja, por quase um século. O principal comandante desta batalha foi justamente Vo Nguyen Giap, falecido dia 4 de outubro de 2013, em um hospital militar de Hanói, onde havia ficado internado por 4 longos anos.

A vitória vietnamita sobre o exército francês teve grande repercussão internacional – pois as tropas colonialistas eram altamente treinadas no trabalho de ocupação de outras nações com uma grande experiência de luta contra a insurgência em vários países da África e especialmente na Argélia. No caso do Vietnã, entretanto, os generais franceses tiveram que enfrentar a engenhosidade tática e estratégica de um povo guerreiro de muitas tradições contra as invasões de seu país. Foram várias hordas de ataques mongóis que foram repelidas uma atrás de outra pelos valentes vietnamitas. Vieram os japoneses durante a segunda Grande Guerra, e forma igualmente rechaçados. Agora os franceses tinham se preparado muito bem para sustentar a colônia a qualquer custo. Em novembro de 1953 a região de Dien Bien Phu foi fortificada no que foi considerada a maior operação de transporte aéreo de suprimentos e tropas da Guerra da Indochina, de 1946 a 1954. O objetivo era bloquear as rotas de transporte dos vietnamitas e preparar o lugar para o enfrentamento de vitória contra os chamados Vietminh, organização política e militar dos nacionalistas do Vietnã. O trabalho realizado pelas tropas da resistência foi árduo e meticulosamente organizado. A logística era extremamente complexa, já que os batalhões vietminh tinham que transportar alimentos e armas através de florestas e regiões escarpadas. Cada quilo de arroz que chegasse às tropas vietminh em Dien Bien Phu exigia mais de 20 quilos de arroz para alimentar os que transportavam o alimento para a região. Peças de artilharia antiaérea e de apoio à infantaria eram cuidadosamente desmontadas e levadas até pontos estratégicos em torno do grande acampamento francês, perto de Dien Bien Phu, dirigido pelos generais Navarre e De Castries.
Estas armas foram remontadas e camufladas de forma tal que os aviões franceses não conseguiam detectá-las. A partir de determinado momento, o Vietminh deu início ao bombardeio sistemático da base francesa e de seus campos de pouso, cercando-a por 57 dias seguidos até a rendição completa do comando colonial. O general De Castries foi preso junto com todo seu alto-comando. Na operação foram feitos 10 mil prisioneiros do exército francês. Em Genebra uma Conferência Internacional foi realizada para negociar os termos da paz, onde participaram os representantes da França, Estados Unidos, Grã-Bretanha e União Soviética. A vitória das tropas do Vietminh dirigidas por Giap sobre o exército francês acabaram com o domínio colonial sobre a Indochina, encaminhando para os acordos assinados em Genebra, que acabaram por dividir o país em dois campos: o Vietnã do Norte aliado do sistema socialista e o Vietnã do Sul, alinhado com os Estados Unidos e a Europa Ocidental. Começa, então, o processo de intervenção mais profundo do exército norte-americano no Vietnã, tarefa que as tropas estadunidenses já cumpriam na esfera logística e de apoio tecnológico à França.
Logo em seguida os Estados Unidos resolveram intervir com um numero crescente de tropas e a utilização de bombardeios e armas químicas. Os EUA aventaram, inclusive, em determinado momento, usar a bomba atômica para liquidar a guerra, fato consagrado em livro publicado pelo ex-secretário de Estado americano Robert S. McNamara, que serviu nos governos John Kennedy e Lindon B. Johnson. Dos 600 mil americanos que foram enviados ao Vietnã, morreram 54 mil soldados. Os vietnamitas sofreram quase 2 milhões de mortos e outros tantos milhões de feridos e incapacitados, sendo que até hoje morrem crianças fruto de problemas genéticos provocados pelo agente laranja utilizado na guerra como desfolhante. Finalmente, em 1975, os vietnamitas venceram e expulsaram os estadunidenses da nação – que foi reunificada em um único país – passando a existir a República Socialista do Vietnã.