O fundador do DataPopular, Renato Meirelles, se destaca pela capacidade de mostrar como é vista e como se vê a chamada nova classe média brasileira, ao inovar em pesquisas que adentraram o universo dessa população. Sua análise chama a atenção para o fato de que, embora tenha avançado durante o período de políticas públicas que estimularam esse crescimento, essa população não reconhece em governos a razão de sua ascenção. Ou seja, não houve um trabalho de conscientização política desse brasileiro que ascendeu a partir do Governo Lula, mas acredita que os méritos de sua qualidade de vida são absolutamente individuais. “Diante disso, o governo tem dificuldade de dialogar e valorizar esse mérito, preferindo minimizar esse esforço pessoal do trabalhador que rala o dia inteiro num call center e faz uma faculdade particular à noite, usando serviços públicos precários para isso.”
Meirelles mostra que esse trabalhador é contra programas como o Bolsa Família, por não entender que ele garante a escolaridade de milhões de crianças, elemento altamente valorizado por essa “nova classe média”. Ele mostra que esses brasileiros chamam para si sua ascensão, ao dizer que quem favoreceu sua condição de vida foi o trabalho, seguido de Deus, e outros fatores, deixando o governo “lá embaixo”.
Eleitoralmente, Meirelles observa que, pela primeira vez, a classe C dividiu-se. Os mais velhos defendem Dilma, e os mais jovens querem uma perspectiva diferente. Outro fator que altera o perfil desta eleição é que a elite não se reconhece como tal. “Pessoas com renda de classe A e B e terceira geração na universidade está nesse perfil, mas 39% deles juram que são pobres”, diz
Ele percebe que o avanço da reivindicação de cesta básica para o Plano Nacional de Banda Larga, do eleitor que em vez de ganhar dentadura, ganha Prouni, aponta para a necessidade do Governo continuar qualificando os serviços públicos e programas de apoio a essa classe média.
Para Meirelles, é preciso dialogar com o conceito de meritocracia, que é muito forte para essas pessoas. “Em vez de atacar a meritocracia, é preciso dizer que ela só faz sentido com igualdade de oportunidades”, disse. Esse cidadão, segundo ele, acredita que a criminalidade é motivada pela maldade das pessoas. “Esse individualismo é reforçado pela percepção de que sua vida privada está melhor, graças a seu esforço, mas a vida fora dos seus portões piorou, mostrando que os governos não funcionam”.
Meirelles dialoga com Quadros ao dizer que, a desaceleração da economia, a partir de 2010, causou uma sensação de ter parado de crescer, “como uma carro andando em alta velocidade, que é obrigado a reduzir a 70 km por hora”. “Mesmo assim, Aécio [Neves] perdeu uma eleição em que dois terços dos eleitores queriam mudar o Brasil. Nunca antes, a chapa de situação tinha mudança no nome”, lembrou ele.
Meirelles pergunta o quanto somos competentes para ganhar as pessoas para as ideias que defendemos. “Enquanto tratamos o povo como massa, no nosso castelo de sabedoria, não vamos entender a vida real. A realidade é autoritária.” Embora haja uma resistência na plateia a essa visão economicista do resultado eleitoral, Meirelles insiste que a economia tem um peso grande também. “Como o partido operário avança, quando o setor de serviços é o que mais cresce no país? 72% dos trabalhadores querem ser donos do seu próprio negócio”, diz ele, mostrando que é preciso estar em consonância com as perspectivas dessas pessoas para não perder o debate.