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    Comunicação

    Velejando para Bizâncio

    Velejando para Bizâncio   Aquela não é terra para velhos. Gente jovem, de braços dados, pássaros nas ramas — gerações de mortais — cantando alegremente, salmão no salto, atum no mar, brilho de escamas, peixe, ave ou carne glorificam ao sol quente tudo o que nasce e morre, sêmen ou semente. Ao som da música […]

    Velejando para Bizâncio
     

    Aquela não é terra para velhos. Gente
    jovem, de braços dados, pássaros nas ramas
    — gerações de mortais — cantando alegremente,
    salmão no salto, atum no mar, brilho de escamas,
    peixe, ave ou carne glorificam ao sol quente
    tudo o que nasce e morre, sêmen ou semente.
    Ao som da música sensual, o mundo esquece
    as obras do intelecto que nunca envelhece.

     

    Um homem velho é apenas uma ninharia,
    trapos numa bengala à espera do final,
    a menos que a alma aplauda, cante e ainda ria
    sobre os farrapos do seu hábito mortal;
    nem há escola de canto, ali, que não estude
    monumentos de sua própria magnitude.
    Por isso eu vim, vencendo as ondas e a distância,
    em busca da cidade santa de Bizâncio.

     

    Ó sábios, junto a Deus, sob o fogo sagrado,
    como se num mosaico de ouro a resplender,
    vinde do fogo santo, em giro espiralado,
    e vos tornai mestres-cantores do meu ser .
    Rompei meu coração, que a febre faz doente
    e, acorrentado a um mísero animal morrente,
    já não sabe o que é; arrancai-me da idade
    para o lavor sem fim da longa eternidade.

     

    Livre da natureza não hei de assumir
    conformação de coisa alguma natural,
    mas a que o ourives grego soube urdir
    de ouro forjado e esmalte de ouro em tramas,
    para acordar do ócio o sono imperial;
    ou cantarei aos nobres de Bizâncio e às damas,
    pousado em ramo de ouro, como um pássaro,
    o que passou e passará e sempre passa.

     

    (Trecho de “Velejando para Bizâncio”, de William Buttler Yeats. Tradução de Augusto de Campos) – fonte  http://www.revistabula.com/

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