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    Comunicação

    Água da lembrança

    Quando se deu? Que sei eu? Água da lembrança eu vou navegar. Passou a mulata de ouro, e eu a fitei ao passar: laço de fita na nuca, bata de cristal, virgem de espádua recente, tacão de recente andar.   Cana (febril chamei-a em mim mesmo) cana tremendo sôbre o abismo, quem te impelirá? Que […]

    Quando se deu?

    Que sei eu?

    Água da lembrança

    eu vou navegar.

    Passou a mulata de ouro,

    e eu a fitei ao passar:

    laço de fita na nuca,

    bata de cristal,

    virgem de espádua recente,

    tacão de recente andar.

     

    Cana

    (febril chamei-a em mim mesmo)

    cana

    tremendo sôbre o abismo,

    quem te impelirá?

    Que cortador com sua foice

    te cortará?

    Que engenho com seu trapiche

    te moerá?

     

    O tempo correu depois,

    correu tempo sem parar,

    eu para lá, para aqui,

    eu para aqui, para lá,

    para lá, para aqui,

    para aqui, para lá…

     

    Nada sei, nada se sabe,

    nada saberei jamais,

    nada têm dito os jornais, nada pude averiguar

    sobre a mulata de ouro

    que uma vez fitei ao passar,

    laço de sêda na nuca,

    bola de cristal.

    virgem de espádua recente,

    tacão de recente andar.

               

     

    Livro: Antologia Poética

    Seleção e Adaptação: Ary de Andrade

    Editora: Leitura

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