Por Osvaldo Bertolino

Um dos personagens mais emblemáticos da Guerrilha do Araguaia, João Carlos Haas Sobrinho, será retratado em filme. Conhecido como Doutor Juca, sua marcante atuação como médico na região, onde é lembrado com carinho e reverência, está sendo registrada pelos produtores Edson Cabral e Sônia Haas – irmã de João Carlos –, que buscam apoio de entidades ligadas aos movimentos dos direitos humanos, leis de incentivo à cultura e instituições que lutam pela democracia. As filmagens ocorrem também em outros locais do país, na busca de um amplo leque de registros sobre sua vida.

Edson Cabral e Sonia Haass, à esquerda

Em seu relatório, Ângelo Arroyo, um dos comandantes da Guerrilha, registrou que, em 30 de setembro de 1972, ao chegar nas proximidades do local de um encontro com o comandante do Destacamento C, Paulo Mendes Rodrigues, “Juca observou que havia muitos soldados nas redondezas”. “Em todas as casas de moradores havia soldados. Juca resolveu, porém, aproximar-se de uma das casas, para se orientar melhor. Viu que lá também havia tropa. Retrocedeu e se juntou ao grupo. No momento em que iam saindo, Gil perguntou, talvez um pouco alto, se poderia amarrar a botina. Imediatamente ouviu-se uma rajada. Juca e Flávio caíram mortos”, relatou. Recentemente, houve o lançamento da da revista de história em quadrinhos Dr Araguaia, de Diego Moreira e Gabriel Kolbe, pela editora Alameda.

A passagem do Doutor Juca na região começou a ser recuperada em 2011, quando a Câmara dos Deputados de Porto Franco, cidade maranhense próxima ao Rio Tocantins e das divisas com os estados de Tocantins e Pará, concedeu-lhe o título de cidadão portofranquino. Sônia Haas, o presidente do PCdoB de São Leopoldo – cidade do Rio Grande do Sul onde ele nasceu –, Nélson Sales, e o jornalista e historiador Osvaldo Bertolino, da Fundação Maurício Grabois, receberam o título em nome da família e do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).

Na solenidade de entrega, o prefeito Deoclides Macedo (PDT) destacou o ato de coragem política e o senso de justiça da Câmara e da prefeitura em homenagear não só João Carlos, mas todos os demais que lutaram por justiça social, liberdade e democracia na Guerrilha do Araguaia. Depois de três dias ouvindo relatos sobre João Carlos, vendo fotografias e sentindo a presença viva do irmão na cidade, Sônia Haas apresentou na solenidade um slide com fotos de João Carlos em família antes de partir para Porto Franco e em seguida para a Guerrilha.

As homenagens a João Carlos incluíram uma visita solene ao Ponto de Cultura que leva seu nome e a inaugurou do Complexo Esportivo João Carlos Haas Sobrinho. “Valeu a pena a passagem dele por Porto Franco e me fez muito bem ter vindo aqui”, resumiu Sonia, que agora volta à cidade para, junto com Edson Cabral e sua equipe, registrar a impressionante memória do Doutor Juca. Em 2011, fiz uma extensa reportagem sobre aquela visita, registrando as emoções das descobertas daqueles momentos.

Veja aqui: Guerrilha do Araguaia: lições de João Carlos Haas Sobrinho