Desde o dia 20 de julho de 1897, quando Machado de Assis capitania a fundação da ABL, o país passou a ter o seu panteón literário, paraíso onde pretendem repouso as almas dos imortais, porém não imorríveis. Neste país de sindicalistas, políticos, socialites e bacharéis, a Academia é a provecta dama cobiçada por beletristas ou simplesmente letrados. É o pódio onde se encarrapitam os que querem ver seu nome “escrito no panteón da história”, Templo das letras, a academia não fecha suas portas a oficiante de outros ritos: oradores, políticos, socialites, militares. Também escritores. Alguns modernosos hostilizam a academia, até que chegue ao fim da vida e queiram ali abrigo pra seus frangalhos. Outros são abençoados dos deuses e logo obtêm sua cadeira; uns insistem até que resvalam pelas frinchas, por debaixo das portas ou pousam de pára-quedas. E há até os que morrem na tentativa de ser eternos. Por ficar no Rio de Janeiro, a Academia é, para a maioria dos brasileiros, inacessível. Está a milhares de quilômetros, cercada pelo trânsito caótico, por morros belicosos, trombadinhas, assaltos e arrastões. Corre o risco todo macróbio de sucumbir numa dessas barricadas que arma o estado real, não paralelo. Tolerante para com o tímido bruxuleio do estado legal. A corrida para o pódio acadêmico é cheia de urzes, espinhos, cobras, lagartos, lobes, reverências, como o caminho para o céu. Mas é para lá que querem levar os escrevinhadores de todo o país seu grande, pequeno, ou minúsculo legado, nobre espólio de sua existência. Todo vereador sonha ser presidente da república ou membro de um tribunal de contas, todo menino que rabisca versos ou velhota que escreve memórias sonha com o fardão emblemático. Com a morte de Zélia Gattai, nem bem esfriou sua cadeira, já ronda uma chusma de pretensos. Dezenas, dizem. Nesses tempos midiáticos, na aldeia global nada passa despercebido. Todos têm direito a seu momento de glória, vingança de uma vida sem fulgor. O prélio agita também as terras goianas. Alguns nomes já se assanham, empinam as plumas e vestem seus provincianos brilhos, como aquelas luzinhas de néon que povoam os cupinzeiros do Parque das Emas. Fulguram à distância, mas quase desaparecem com a proximidade. Entre esses, quero abrir alas para o poeta Gabriel Nascente. O vate. O poeta permanente. O marceneiro de cinqüenta livros de lamúrias como reclamante das dores do mundo. Poeta em tempo integral, não descansa para qualquer trabalho. Rói e mói as cordas da lira, espolia musas e destrona as cigarras de outubro porque zumbe, clama, declama o ano inteiro. Vai ali caminhando e ruminando versos. Vê um ouvido distraído e desata a cachoeira de metáforas. Se não, canta para si mesmo, ouvindo ao fundo do peito o bater de seu tambor lírico. Já é tempo da velha casa de Machado de Assis saber que existem outros Brasis. Que um escritor não precisa mudar-se para o Rio de Janeiro e fazer beija-mão para merecer o reconhecimento. É tempo de a velha senhora acolher alguém que é só escrevinhador, só poeta, sem outros títulos. Se fosse acadêmico votaria em Gabriel Nascente. Se Goiás pudesse, também votaria.
Gabriel Nascente, um nome para a academia
Desde o dia 20 de julho de 1897, quando Machado de Assis capitania a fundação da ABL, o país passou a ter o seu panteón literário, paraíso onde pretendem repouso as almas dos imortais, porém não imorríveis. Neste país de sindicalistas, políticos, socialites e bacharéis, a Academia é a provecta dama cobiçada por beletristas […]
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