Vietnã está alerta com estratégia diplomática dos EUA para sudeste asiático
O Vietnã encontra-se no mesmo extremo oriente onde situam-se China e Coreias, separadas das Américas por enormes arquipélagos como Filipinas e Japão e muita água do oceano Pacífico. Uma região quente de densas florestas tropicais, mas acima de tudo, uma população com tradições muito fortes, milenares e profundamente distintas da civilização ocidental, que desenvolveu um […]
POR: Cezar Xavier
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O Vietnã encontra-se no mesmo extremo oriente onde situam-se China e Coreias, separadas das Américas por enormes arquipélagos como Filipinas e Japão e muita água do oceano Pacífico. Uma região quente de densas florestas tropicais, mas acima de tudo, uma população com tradições muito fortes, milenares e profundamente distintas da civilização ocidental, que desenvolveu um modelo político muito próprio. China, Vietnã e Coreia do Norte espantam o mundo com seu comunismo peculiar e vigoroso, que provoca reações estratégicas dos EUA para aquela região.
O crescimento econômico vertiginoso desses asiáticos, apesar da debacle europeia e do esforço norte-americano para sair da estagnação, são as conjunturas históricas que permearam o encontro promovido pela Secretaria de Relações Internacionais do PCdoB com o embaixador do Vietnã no Brasil, Duong Nguyen Tuong, nesta quinta-feira (4). A proposta de discutir as diretrizes aprovadas no 11o. Congresso do PC do Vietnã possibilitou um intercâmbio maior com aquele país, mais conhecido por expulsar derrotado o gigante imperialista da América do Norte, na década de 1970, provocando rearranjos geopolíticos na Ásia, que repercutem até hoje. Crise na península
Com a saída dos EUA, a Coreia do Sul se sentiu isolada em meio a grandes nações comunistas, abrindo-se de forma exacerbada à ocupação militar dos norte-americanos. Atualmente, com as provocações de Obama realizando manobras militares agressivas na península coreana, a ameaça nuclear da Coreia do Norte e seu forte sentido de soberania têm tumultuado as relações naquela região. Tuong, no entanto, reafirma a identidade de seu país com o socialismo chinês e coreano como um laço que os une e protege.
Tuong considera perigosa a tática diplomática dos EUA para a península coreana, ao buscar uma aproximação maior com a Coreia do Sul, além do Japão. Segundo ele, a diplomacia norte-americana também chama o Vietnã para “situações novas”, a fim de consolidar sua presença na Ásia e isolar a China. Existe uma justificativa do governo Obama de proteger o país do sudeste asiático de uma suposta ameaça chinesa, representada pela ocupação de ilhas que o Vietnã mantém negociação por meio de conversações diretas com a China.
“Estamos vigilantes com essa politica do governo Obama. Temos uma direção muito boa com China, não apenas por sermos vizinhos, mas por sermos países socialistas”, garante o embaixador, reafirmando que num conflito entre China e Vietnã, só quem ganha são os EUA. “O mar da China tem recurso de petróleo muito grande, portanto, cada ilha representa um território de exploração, mas nunca houve ação militar entre Vietnã e China”, enfatizou Tuong. Construção histórica
Embora tenha que lidar com a inflação galopante causada pelo forte crescimento econômico, e pelo desequilíbrio na migração interna do campo para as grandes cidades, Tuong enfatizou que as diretrizes do Congresso visam a garantir a construção do socialismo baseado na realidade conjuntural de seu país. O processo iniciado em 1945 baseado no modelo soviético, segundo ele, encontrou dificuldades e desafios após a queda da URSS, promovendo reformas em seu 6o Congresso, visando a promover a mobilização plena dos recursos humanos e naturais do Vietnã para resistir à nova realidade. “A meta é sempre garantir o bem estar do povo vietnamita”, afirmou.
“Em janeiro de 2011, em seu último Congresso, o partido identificou que estamos construindo o socialismo num contexto muito especial de revolução científica e tecnológica, com uma economia do conhecimento correndo muito rápido e influenciando nosso partido”, conta o embaixador. De acordo com seu relato, o avanço tecnológico mundial criou muitos efeitos favoráveis para o desenvolvimento de seu país, mas não está expresso claramente na realidade do Vietnã.
Por outro lado, o Vietnã não está alheio às contradições fundamentais que atingem o resto do mundo e chegam de alguma forma à Ásia. Ele citou às ameaças à paz, a questão da independência nacional, o desenvolvimento econômico, os avanços democráticos, conflitos de etnia e classes sociais, guerra civil, os conflitos do golfo e o crescimento do terrorismo, entre outros. “Observamos que os desastres naturais e as doenças estão aumentando e demandam uma cooperação entre os países”, afirmou, salientando o esforço diplomático vietnamita para uma aproximação maior com outros países. Economia de mercado socialista
Todos esses fatores, além dos desafios pontuais internos do país, levaram o Partido Comunista a implementar uma economia de mercado que não isolasse o Vietnã e contribuísse para garantir distribuição de riqueza para o povo, fortalecendo o país com um modelo de produção avançado.
Como cultura milenar que carregam em seu arcabouço histórico, os vietnamitas são pacientes e acreditam na construção do socialismo como uma luta prolongada e árdua, que exige políticas de transição baseadas no capitalismo. “Antigamente achávamos que era simples construir o socialismo a partir de um salto imediato do feudalismo. Hoje, sabemos que trata-se de um processo longo que pode durar muito tempo”, diz Tuong. Durante esse processo, afirma o representante do governo, o Vietnã pode aceitar e experimentar diferentes formas de organização econômica, a partir de formas de gestão capitalista exitosas. “Queremos construir uma economia moderna e sólida, mas com uma superestrutura ideológica socialista”, diz. Classe capitalista
Outro aspecto que as reformas recentes visam incluir, alheias ao ideário comunista, é uma representatividade classista ampliada. “Antes, apenas representantes da classe operária e camponesa tinham lugar na superestrutura”, diz ele, considerando esta uma mudança importante nesta transição.
Sua retórica assemelha-se ao capitalismo dirigido pelo Partido Comunista na China, semelhança que ele reafirmou durante a palestra. Para ele, a grande diferença entre esses países é diplomática. “Buscamos desenvolvimento econômico para melhorar a vida do povo, e não para mostrar poder ao mundo”, afirmou, peremptoriamente. Segundo ele, o ingresso de outras classes sociais na superestrutura de poder no Vietnã, como a incipiente “classe capitalista”, se dá por meio da Assembleia Nacional. “A China aceita dentro do partido, mas nós não”, declarou.
“Nosso objetivo atual é muito concreto, industrialização e desenvolvimento da economia de mercado com direção socialista”, enfatiza. Tuong chega a comparar a implementação de programas sociais de moradia e combate à pobreza do Brasil ao que seu país tem promovido como forma de intervenção estatal na economia. Para ele, tem sido um aprendizado observar a política brasileira. Uma só direção
O embaixador também faz uma autocrítica sobre a hegemonia do partido único em seu país. “Isso traz vantagem e desvantagem, pois podemos dar direção muito concreta para a construção do socialismo, mas não temos uma força oposicionista que possa sugerir outras direções possíveis aos rumos do país”, pontua.
A indicação absoluta do partido para os quadros de governo, tais como ministros, presidentes da província, todos aliados do governo central, também traz desvantagens, tais como abuso de poder. Este é um desafio que o PCV busca enfrentar com dificuldade a partir da disciplina partidária. “Alguns aliados abusam e não favorecem a imagem do partido no seio da população”, lamenta. Por outro lado, ele destaca a direção altamente capilarizada do partido junto às menores aldeias, transmitindo a direção partidária junto a população.
Tuong conta entre as prioridades desse modelo manter a ideologia comunista, a unidade interna do partido para consolidá-lo na vida social e política, acompanhada da forte participação popular para garantir o aperfeiçoamento de suas políticas. “Nosso partido será sempre um partido forte no comunismo internacional”, garantiu o embaixador.
Questionado sobre a participação das mulheres na vida política do Vietnã, o embaixador foi bem humorado, dizendo que seu país tem muito a aprender com a presidenta Dilma Rousseff e suas inúmeras ministras. Segundo ele, as mulheres são cerca de 20% dentre parlamentares e uma proporção pequena no partido, cerca de 10% no Comitê Central. No governo, há uma ministra.
O secretário de Relações Internacionais do PCdoB, Ricardo Alemão Abreu, informou que uma comitiva do Comitê Central do PCdoB viaja para o Vietnã neste sábado (6) em missão de amizade.
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